http://www.youtube.com/watch?v=kHZVGqqf3gg
domingo, 31 de janeiro de 2010
The XX - nova banda londrina
http://www.youtube.com/watch?v=kHZVGqqf3gg
o escafandro e a borboleta
Com este olho piscava uma vez para dizer sim e duas vezes para dizer não. Com ele chamava também a atenção do seu visitante para as letras do alfabeto, formando palavras, frases, páginas inteiras. Assim escreveu este livro: todas as manhãs, durante semanas, decorou as suas páginas antes de ditá-las, depois de as ter corrigido mentalmente durante a noite.(...) Bauby faleceu a 9 de Março de 1997, mas deixou este seu testemunho impressionante, bem escrito, e melhor traduzido, do que é ter um intelecto vivo dentro de um corpo morto."
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Biblioteca - Gonçalo M. Tavares
"O ponto de partida deste livro é a obra dos autores - nunca aspectos biográficos. Uma ideia ou apenas uma palavra mais usada pelo escritor (por vezes, mesmo associações inconscientes e puramente individuais) estão na origem do texto. Mas cada fragmento sege o seu ritmo próprio.
O percurso de leitura poderá ser determinado pelo acaso ou pela vontade dirigida (e não apenas pela sequência da paginação). Agrada-me a ideia de que alguém possa ler alguns destes fragmentos hoje, e outros daqui a alguns anos."
Adorei este fragmento com que me deparei casualmente na letra h, quando procurava vorazmente Harold Bloom:
Hans Magnus Enzensberger
Um homem, com os pés dentro de uma caixa, faz um discurso sobre a rapidez no mundo.
Outro homem, com a cabeça numa caixa, faz um discurso sobre a clareza no mundo.
Um terceiro homem, com uma caixa em redor das ancas, faz um discurso sobre a necessidade de a sedução ser uma prática tão considerada socialmente como a simpatia.
Entretanto, no canto da sala, uma caixa sem homem nenhum permanece imóvel e muda (como seria de esperar). Mas essa caixa perturba. Porque traz um mistério.
Magnus Enzensberger (11 de novembro, 1929 11 de Novembro de 1929 em Kaufbeuren) é poeta, ensaista, tradutor e editor alemão. É também escritor sob o pseudônimo de Andreas Thalmayr, Linda Quilt, Elisabeth Ambras e Serenus M. Brezengang.
Enzensberger estudou literatura e filosofia nas universidades de Erlangen, Freiburg, Hamburgo e também em Sorbonne, Paris, recebeu seu doutorado em 1955.
Trabalhou como redator na rádio de Stuttgart e exerceu a docência até 1957, com o volume de poesias Verteidigung der Wölfe (Defesa dos Lobos).
Entre 1965 e 1975 foi membro do Grupo 47. Em 1965 criou a revista "Kursbuch" e desde 1985 edita a série literária Die andere Bibliothek.
Publicou entre outras obras Zigue Zague, O naufrágio do Titanic, Outra Europa.
Também gostei muito do texto para Virginia Wolf. Ora, lê:
Virginia Wolf
Numa festa 1, 2, 3 homns passeiam com os seus quilos e os seus membros.A mulher traz uma rosa que ontem lhe ofereceram. Tem os olhos verdes e as rosas vermelhas. Uma mulher inteligente, mas tem pele, como as outras. O seu cabelo é uma pintura que os homens observam demoradamente. Todos os outros penteados parecem falsificações.
Histórias de Amor - Robert Walser

A contracapa diz muito:
Conheço uma importante musa que nada sabe de poesia, mas que é ela própria um poema, o que para um poeta é muito importante. Quem é insolente com ela apenas se depara com o seu magnífico espanto. Já lhe dediquei o meu canto uma ou duas vezes, mas por ora fiquei sempre aquém. Ela afugentou-me e eu ri-me alegremente, como se ela tivesse concedido uma noite ao poeta, e ele respondesse com frieza, porque a sua fantasia já lhe tivesse oferecido a visão do corpo dela. Nunca mais voltarei a amar. Ela fez de mim uma criança que admira o mundo, que segue a mais bela doutrina e teme a Deus. Os sapatos dela não são maravilhosos. Mas gosto bastante do guardanapo com que ela brinca. Nunca poderei voltar a vê-la, e no entanto sou feliz, ainda que na verdade não devesse ser. Fui um sem-vergonha com ela, porque a sua presença me deixava a tremer e porque queria dar uma ilusão de superioridade e porque achava tolo e quase odiava este estremecimento, este amor. Mas quando estamos longe um do outro, brinco com ela e afago-a, salto como um doido, como um rapazinho tonto. Seria bem capaz de a esquecer aí uns quatro anos, mas depois tudo voltaria outra vez. É espantoso saber isto! Nunca tinha reparado no poder que uma rapariga tem. Toda a lealdade e tudo o que em mim há de bom fica prostrado por terra diante do vestido da única mulher. Estou tão alegre como só me sinto de manhã cedo, e no entanto é meia-noite, e escrevo estas linhas como se não as fosse dar a ler a ninguém.
Deux Personnages - Picasso

"O homem é um grande faisão sobre a terra" - Herta Müller

" Herta Müller nasceu em 1953 em Nitzkydorf, Roménia. Pertence a uma minoria de origem alemã. Entre 1973 e 1976 faz estudos germanísticos e romanísticos na Universidade de Timisoara. Em 1987 deixa a Roménia, passando a residir em Berlim. "O homem é um grande faisão sobre a terra" é o retrato de uma comunidade que vive entre o embrutecimento, a resignação e uma esperança débil."
Este livro que me ofereceste, o primeiro que li da autora, é tão belo como perturbador...sublinha-se em todas as páginas deste "O homem é um grande faisão sobre a terra" que a escritora muito antes de ser romancista, é poeta. A estrutura fragmentada do romance, com capítulos breves de títulos nominais que revelam toda a atenção que ela dá aos instantes da vida - o leite; a navalha; a lágrima; o açougue; a gaivota; a macieira (...) - despertam o interesse do leitor logo nas primeiras linhas de descrição da aldeia de um dos personagens principais, Windish, onde se concentra a acção de forma quase sufocante.É a vida miserável e conflituosa de Windish e sua mulher e filha,uma família romena desencontrada há muito da felicidade, e a força que resta do desespero do seu quotidiano explorado ao máximo pelo regime ditatorial, que se exibe em páginas e páginas de pura literatura. Ao lado destes personagens vão surgindo personagens-vizinhos que são fotografados com a mesma crueza e poesia, na sua dura rotina, mostrando de igual forma os seus sonhos, medos, taras, violências, mesquinhez, opressões...Enfim, explica-se o pior que o ser humano tem, muitas vezes com uma ironia crescente que desemboca na caricatura, e a sua brutal resistência à humilhação, à exploração constante, à morte lenta decretada pelo próprio homem que se revela um grande faisão que ensombra a terra no seu poderoso voo intimidante,nessa constante investida sem escrúpulos.
Deixando de parte o excelente fragmento "A macieira" ou o referente à infância de Amalie, intitulado "O leite" que já conheces, há tantos outros admiráveis que poderia transcrever... opto por estes que me marcaram muito:
O sapo
(…)
Uma nuvem mancha a lua de vermelho. Windisch encosta-se à parede da azenha. «O ser humano é estúpido», diz o guarda-nocturno, «e está sempre pronto a perdoar». O cão come um pedaço do coirato. «A ela, perdoei tudo», diz o guarda-nocturno. «Perdoei-lhe o padeiro. Perdoei-lhe o comportamento na cidade.» Passa as pontas dos dedos pela lâmina da faca: «A aldeia em peso fez pouco de mim.» Windisch suspira. «Eu nem conseguia olhá-la nos olhos», diz o guarda-nocturno: «Só uma coisa não consegui perdoar-lhe: é que tivesse morrido tão depressa como se não tivesse ninguém. Isso é que não lhe perdoei.»
«Sabe Deus» diz Windisch, «para que é que elas existem, as mulheres?».O guarda-nocturno encolhe os ombros: «Para nós é que não» diz ele. «Nem para mim, nem para ti. Não sei para quem.» O guarda-nocturno faz uma festa ao cão. «E as filhas», diz Windisch, « Sabe Deus, também elas se tornam mulheres.»
Sobre a bicicleta há uma sombra e uma sombra sobre a relva. «A minha filha», diz Windisch medindo mentalmente a frase, «a minha Amalie também já não é virgem.» O guarda-nocturno olha para a nuvem vermelha. As barrigas das pernas da minha filha parecem melões», diz Windisch. « Como tu dizes, já não consigo olhá-la nos olhos. Tem uma sombra nos olhos.» O cão vira a cabeça. «Os olhos mentem», diz o guarda-nocturno, «as barrigas das pernas, essas é que não mentem.» Afasta os pés. «Olha para os pés da tua filha quando anda», diz ele. «Se afastar as pontas dos pés ao andar, então já não há nada a fazer.»
Pp 14, 15
A folha de alface
Amalie lambe um osso de galinha. Na boca rangem-lhe as folhas de alface. A mulher de Windisch segura uma asa de galinha à altura da boca. «Ele emborcou a aguardente toda», diz ela. Chupa ruidosamente a pele amarela: «Com o desgosto».
Amalie pica a folha de alface com os dentes do garfo. Segura a folha à altura da boca. A folha estremece no momento em que fala. «Com a tua farinha não vais longe», diz. Os lábios dela mordem-se com força, como uma lagarta à folha de alface.
«Os homens têm de beber porque sofrem», diz a mulher de Windisch sorrindo. A sombra dos olhos de Amalie dobra-se em azul sobre as pestanas. «E sofrem porque bebem», acrescenta com um risinho. Olha através de uma folha de alface.
O chupão vai-lhe amadurecendo no pescoço. Vai ficando azulado e move-se quando ela engole.
A mulher de Windisch chupa as pequenas vértebras brancas. Engole as minúsculas fibras de carne do pescoço da galinha. «Quando casares, abre os olhos», diz ela. «O hábito de beber é uma doença péssima.» Amalie lambe as pontas dos dedos vermelhas. «E não é nada saudável,» diz ela.
Windisch olha para a aranha negra. «Ser puta é mais saudável», diz ele.
A mulher de Windisch bate com a mão na mesa.
p. 87
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Olhos que passam com o tempo

Picasso, Figuras à Beira-Mar
O meu primeiro namorado tinha olhos claros. Tinha olhos claros até de noite, quando o medo do fim descia das paredes do meu quarto e, com a humidade tão própria das casas costeiras, se infiltrava nos lençóis e começava a percorrer a minha espinha dorsal como um incómodo metálico. Nesses lençóis que a minha mãe esticava ao máximo no meu colchão, até parecerem um pedaço de lago gelado, é que eu escondia os meus sonhos. Os meus sonhos a transbordar do azul dos olhos do Zeca. Os meus sonhos tão grandes que pareciam não caber naqueles olhos pequenos demais para tanto azul. Grandes de curiosidade de saber como era beijar de olhos fechados e boca dentro de outra boca. Assim desaparecia o medo.
Muitas vezes, a minha irmã mais velha não sabia que o Zeca estava deitado entre nós. Em noites de saudade, mal surgia a claridade dos seus olhos a palpitar num canto do tecto, eu metia-o entre as duas. O colchão era enorme. E mal lhe sentia a desconfiança no corpo a virar-se repentino, como se a espreitar-nos sem licença, apertava a mão ao Zeca o mais que podia e parava com as carícias, deixava fugir os beijos cheios de saliva por entre as cabeças, agora estátuas… suspendia a respiração até à última resistência para que a minha irmã mais velha não notasse nada de anormal ali mesmo, nas barbas dela. Mas o certo é que algumas vezes ela me dizia, numa voz enrouquecida de sono, coisas. Pareces maluca. Ou então, enfurecida de sono. Vais já pela janela fora se não sossegas. E eu sabia que era tudo ciúmes por saber que estávamos muito apaixonados um pelo outro.
(...)
O meu pai também não me deixava sonhar com o Zeca. Costumava levantar as persianas num esticão drástico mal pressentia o meu sorriso dentro dos lençóis. Dizia sempre numa espécie de revolta que a vida não era um sonho. Na cabeça dele era preciso muita luz para que eu, cega logo pela manhã, não distinguisse mais a cor clara dos olhos dele a contemplarem-me desmedidos, em baba, a desejarem-me. Aliás, adivinhava sempre na expressão do meu pai, o segundo em que as palavras “ tens que fazer pela vida ” saiam disparadas dos seus lábios, esbranquiçados de espuma nos cantos pela autoridade irritada com que falava com os outros, como a rolha sob pressão de uma garrafa de champanhe.
Para ele nunca atingi definitivamente a idade para começar com namoros. Dizia este plural quase irado. (...)
Passava as ruas que se cruzavam em pura geometria a correr. Corria sempre muito e havia momentos que mesmo com os olhos fechados sabia o caminho que me levava àqueles olhos. Eram segundos emocionantes os que eu adivinhava o chão e as suas irregularidades sem ver nada. Passava-me ao lado, como um cheiro entranhado, toda a textura da arquitectura do meu percurso. As cores das plantas rasteiras, dos gatos e dos cães que em pobreza uivavam, do arvoredo alto em dança, dos rostos e corpos dos outros, tornavam-se todas no azul que me esperava, deitado ao comprido a contemplar as gaivotas no céu, mesmo por cima dessa duna ventosa onde nos amávamos até à última réstia do entardecer. A vida é um sonhar. Um sonhar que se cumpre. Não é o trabalhar para comprar o pão ou o suor em sacrifício a escorrer pela testa.
O Zeca não tinha palavras. Só os gestos do seu olhar contavam. Gestos que pareciam ondas, cada um com uma rebentação diferente. Mas eu lia as palavras bem gordas que ele tinha por detrás das pupilas radiosas sem que ele desse conta. Conseguia sempre saber o que me diria, não fosse a timidez.
Todos os dias eram amarelos como a areia. Nesse amarelecer visitavam-nos pássaros corpulentos com fome de peixe vivo. Plumas cinzentas de olhos negros que comunicavam com uma linguagem quase ausente, mas que dava sentido àquele deserto ventoso cheio de silêncios. Como intrusos de patas negras debicavam os grãos de areia à procura do nosso desejo. Gaivotas ciosas. Eu tinha-lhes medo. Mais medo do que do segredo que o Zeca me obrigara a guardar nessa tarde. Um segredo sangrento que enterrámos na duna mais alta, o mais fundo possível para o meu pai nunca o poder encontrar. A partir desse segredo, um peso caminhou em direcção ao meu peito, instalando-se por detrás do pulmão direito a lembrar que o nosso amor se tinha instalado seriamente no meu corpo, como um órgão novo, uma peça que prendesse para sempre o meu ventre ao corpo forte dele. E senti que o amor existia em mim doutro modo, como se tivesse sido transportado de uma praia para um campo de batalha. E na eminência de ter de se defender a todo o instante da palavra morte. Mesmo quando quem existia era sobretudo a alma.
Os dias eram canções. Sempre as mesmas gaivotas com um cheiro a maresia nas penas grossas. Sempre o mesmo ondular de corpos cada vez mais nus, num espaço unicamente velado pelo bater do azul do mar na areia molhada da dura baía atlântica. O vento arrepiava. Obrigava a abraços mais fortes. A vestir a roupa com mais pressa depois da sofreguidão dos corpos que se esvaziavam e enchiam imitando as ondas. Cada vez mais era eu própria aquela areia.
Pelo anoitecer entrava em casa como uma fortificação em concha austera. Todos os ruídos eram o mar, todas as conversas eram líquidas e lembravam beijos e o sexo, como uma estrela-do-mar, molhado, a inundar tudo o que tocava. E olhava muitas vezes o céu através dos cortinados claros que logo se tornavam no azul dos olhos do Zeca. Então ria-me mesmo sem estar a dormir.
Não controlei parte do segredo como devia por isso o meu pai desconfiou. E não tardou em seguir-me até à duna, armado da sua dureza de pai. Foi então que viu o que algumas pessoas lhe disseram com palavras desajustadas ao que sentia por mim. Ao longe, o desenho da minha felicidade transposta pelo corpo pendido do Zeca.
Nessa noite permitiu que eu namorasse. Nessa noite exigiu que eu casasse. Eu não dormi porque não tinha palavras que chegassem para construir a ordem do meu pai em sons perceptíveis. Não sabia atirá-las como um íman ao Zeca, como uma rede de caça, como notas dissonantes da canção que ele adorava.
Foi a partir dessa exigência cujas palavras nunca fui capaz de pronunciar na totalidade que o Zeca deixou de ir à duna. E eu já não corria para ir ao seu encontro. Tornei-me pesada sobre o alcatrão.Um rochedo na areia. Leve e muda em casa.
(...)
Aos Amigos - Herberto Helder

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.
Para ti querida Anabela,
este poema que ajudou a criar uma imagem poderosa da tarde cheia de livros e amizade que hoje passámos juntas. Que as palavras de Herberto Helder sejam verdadeiros encantamentos para ti como o são para mim, sempre que as leio e sinto que "o poema cresce tomando tudo em seu regaço".
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Todas as cartas de amor são ridículas...

Até as do próprio Fernando Pessoa...
Deixo-te uma carta de amor do genial Pessoa totalmente reduzida ao mimo que o amor imprime na linguagem até dos seres humanos mais geniais (o amor torna-nos mais parecidos uns com os outros). Vê lá se não achas deliciosas estas palavras que seguem um circuito circular inesgotável (como o próprio amor) e parecem ser escritas propositadamente para ser lidas num sussurro bem juntinho ao ouvido de Ofélia:
Terrivel Bebé:
Gosto de suas cartas, que são meiguinhas, e tambem gosto de si, que é meiguinha também. E é bombom, e é vespa, e é mel, que é das abelhas e não das vespas, e tudo está certo, e o Bebé deve escrever-me sempre, mesmo que não escreva, que é sempre, e eu estou triste, e sou maluco, e ninguém gosta de mim, e também porque é que a havia de gostar, e isso mesmo, e torna tudo ao princípio, e parece-me que ainda lhe telephono hoje, e gostava de lhe dar um beijo na bocca, com exactidão e gulodice e comer-lhe a bocca e comer os beijinhos que tivesse lá escondidos e encostar-me ao seu hombro e escorregar para a ternura dos pombinhos, e pedir-lhe desculpa, e a desculpa ser a fingir, e tornar muitas vezes, e ponto final até recomeçar, e porque é que a Ophelinha de um meliante de um cevado e (...) e eu gostava que a Bebé fôsse uma boneca minha, e eu fazia como uma crença, despia-a, e o papel acabava aqui mesmo, e isto parece impossível de ser escripto por um ente humano, mas é escripto por mim.
Fernando
domingo, 17 de janeiro de 2010
Eric Rohmer
"Os jansenistas são tristes".
Eric Rohmer foi pioneiro da nouvelle vague
Cineasta que morreu na segunda-feira, aos 89 anos, deixou legado de filmes autorais, de caráter intimista, sempre focado em relações amorosas e com forte viés filosófico A morte do cineasta francês Eric Rohmer, na segunda-feira, em Paris, aos 89 anos, encerra um importante capítulo da história do cinema.Nascido Jean-Marie Maurice Schérer em 21 de março de 1920, em Tulle (França), Rohmer foi um dos maiores nomes do cinema e figura central da nouvelle vague – “nova onda”, movimento do final dos anos 1950 criado por jovens críticos como Jean-Luc Godard, Claude Chabrol e François Truffaut (1932-84) que questionava o cinema clássico francês.Rohmer era conhecido por seu estilo intimista, com filmes sobre desencontros amorosos que colocavam a palavra no centro da ação cinematográfica. Seus diálogos tomavam a forma de divagações filosóficas. Em artigo publicado em sua edição eletrônica, o jornal Le Monde classificou a obra de Rohmer como uma “concepção muito francesa da arte”.“Clássico e romântico, inteligente e iconoclasta, leve e sério, sentimental e moralista, ele criou o ‘estilo Rohmer’, que sobreviverá a ele”, disse o presidente francês, Nicolas Sarkozy, em nota oficial, acrescentando que Rohmer foi um “grande autor, que continuará dialogando conosco e nos inspirando por anos e anos”.– Cada um de seus filmes era um jogo compartilhado, com regras próprias, em que cada ator fazia sua parte – disse Serge Toubiana, diretor da Cinemateca Francesa.Camus e Renoir foram influências.
Rohmer venceu o Leão de Ouro pelo conjunto de sua obra no Festival de Veneza, em 2001, e foi indicado ao mesmo prêmio pelo filme Os Amores de Astrée e Céladon em 2007, ainda inédito no Brasil. O diretor foi indicado uma vez ao Oscar, por melhor roteiro, em 1971, por Minha Noite com Ela. Venceu também o Urso de Prata, no Festival de Berlim, pelo filme A Colecionadora, em 1967.Em texto publicado segunda-feira, o Le Monde lembra ainda sua “sutileza espiritual, seu gosto pela impertinência e pela liberdade”, classificando o diretor como “representante do cânone do cinema francês” e, ao mesmo tempo, um “clássico contrariado”. Antes de se dedicar à direção de filmes, Rohmer foi crítico de cinema e comandou a revista Cahiers du Cinéma de 1957 a 1963. Rohmer era considerado o mais conservador do grupo. Nas críticas que escreveu, defendia o cinema clássico de Hollywood e foi um dos primeiros a reconhecer a importância do britânico Alfred Hitchcock.–Há em todos os meus filmes algo que não é leve – afirmou Rohmer em entrevista de 2007.Cita entre suas influências o norte-americano Howard Hawks, o francês Jean Renoir e o italiano Roberto Rossellini. Na literatura, enumera entre seus preferidos o escocês Robert Louis Stevenson e o norte-americano Herman Melville. Lembra-se também de O Estrangeiro (1942), de Albert Camus, livro que inspirou sua ideia de um “presente no passado”.– É um pretérito simples, só que no presente. Não marca a continuidade da ação, mas o momento da ação – disse.Rohmer tem três principais ciclos: os Contos Morais; Comédias e Provérbios (ambos com seis filmes cada um); e Contos das Quatro Estações.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Dicionário técnico-literário dos Bloom Books – 38

PALAVRAS CRUZADAS EM TELA, paulo Barreiro
[14-01-2010] | Gonçalo M. Tavares
Solidificar – Método inimigo da literatura Bloom. Solidificar é imobilizar. Pelo contrário: derreter e evaporar.Tornar toda a matéria do texto inagarrável.
Construir o indíce-de-agarrabilidade de uma frase tal como pode existir o indíce de agarrabilidade de um objecto (objecto com pega/objecto sem pega).
Festa do Livro

terça-feira, 12 de janeiro de 2010
MULHERES CORRENDO, CORRENDO PELA NOITE - Herberto Helder

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Casa da Música - Transmissões ao vivo e em directo

sábado, 9 de janeiro de 2010
O Fazedor de Viúvas - Valter Hugo Mãe


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
MICROCONTOS - Autores Portugueses

“ Grandes escritores ensaiaram o microconto, como Kafka, Cortázar, Jorge Luís Borges, Chekov, H. P. Lovecraft, Ray Bradbury e os portugueses Mário Henrique-Leiria com os contos curtos do Gin-Tonic, ou Jorge de Sousa Braga.”
Neste post transcrevo os três melhores microcontos que a meu ver são mais pungentes e consistentemente literários apesar da limitada extensão a que se submeteram.
NO INÍCIO DO ANO, uma donzela do Oriente diz ao seu amado esposo:
- Não caminhes em direcção ao Leste. Se o fizeres encontrarás a morte.
Mas o amado nada ouviu, pois, nesse momento, pensava numa outra mulher, numa mulher mais jovem, mais bela, mais inteligente.
Seguiu assim o homem em direcção a leste – e não morreu. Pelo contrário, foi recebido em casa pela tal amante mais jovem, mais bela, mais inteligente.
Na manhã seguinte, ao levantar-se, a amante disse-lhe:
-Não caminhes em direcção ao Oeste. Se o fizeres encontrar´
As a morte.
Mas o homem nada ouviu, pois, nesse momento pensava na sua esposa legítima que o esperava.
Seguiu assim o homem em direcção a oeste – e não morreu. Pelo contrário, foi recebido em casa, com alegria e calor, pela sua esposa.
Na manhã seguinte, ao levantar-se, ouviu da sua amada esposa, uma donzela do Oriente:
- Não caminhes em direcção ao Leste. Se o fizeres encontrarás a morte.
Mas o amdo nada ouviu, pois, nesse momento, pensava numa outra mulher, numa mulher mais jovem, mais bela, mais inteligente.
Seguiu assim o homem em direcção a leste e depois a oeste e depois a leste e sucessivamente, dias e dias, meses e meses, anos e anos – e não morreu.
A morte surgiu apenas quando o homem já velho e sem forças ficou incapaz de se mover – quer para leste quer para Oeste.
Gonçalo M. Tavares
Micronarrativa com mulher dentro
UMA MULHER LIVRE resolveu escrever um livro em 45 capítulos que pudesse arrumar confortavelmente no bolso. Esta ideia contudo perturbava-a sem que soubesse ao certo porquê. Durante várias noites não conseguiu dormir a pensar nas razões do seu incómodo. Enquanto se esforçava por adormecer, passavam-lhe diante dos olhos imagens do rosto da mãe, ainda jovem, de saias compridas, colares e longos cabelos. Do pai, quase sempre estendido debaixo de uma luz moribunda de Verão, belo como um deus que se consumisse aos poucos. Ela e os irmãos a correrem descalços e nus em volta de uma piscina de plástico com patos e flores. Ela, sozinha, na faculdade, a fechar a porta do quarto depois de uma noite de sexo amigo, daquele que não prende.
A pintar as paredes da primeira casa, da segunda… enquanto os namorados ficavam estendidos, belos como deuses ainda por consumir. A fechar as portas com dor. Uma mulher livre quis escrever um livro com a ligeireza do ar e descobriu que era cega. Como se fosse verão.
Possidónio Cachapa
O Futuro
DERAM-LHES CARTA BRANCA para fazer o que desejassem, como desejassem, sem limites orçamentais. Junto à costa, os terrenos expropriados eram uma espécie de tábua rasa, estendendo-se até ao horizonte longínquo. «Construam o futuro, aqui e agora», pediu-lhes o Presidente, num discurso inflamado, solene, feito para impressionar os Presidentes dos países vizinhos. Então, eles chegaram. Os melhores arquitectos. Os melhores engenheiros. Os melhores empreiteiros. Nos projectos que pousavam em cima das elegantes mesas de vidro, estava o futuro. O Futuro, com maiúscula. Uma cidade perfeita, ecologicamente sustentada, exemplar. A cidade-síntese. A cidade ideal. Então, o Presidente morreu, em circunstâncias misteriosas. A primeira decisão do sucessor foi embargar o Futuro, dirigir as verbas para outros fins. Os alicerces do Futuro ficaram expostos ao vento, consumidos pelo salitre. Ainda hoje podem vistos, junto a costa, por entre enormes extensões de areia, detritos e urtigas.
José Mário Silva
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
ODE TRIUNFAL de Álvaro de Campos para NUNO CANELAS

Como prometido, ofereço um excerto do poema Ode Triunfal do Engenheiro Naval Álvaro de Campos ao Nuno Canelas para que ele se inspire na sua criação artística que muito aprecio.
Deixo o endereço do seu site para que possam conhecer a sua obra num clicar de rato:
http://web.mac.com/nunocanelas/Site_2/site_de_nuno_canelas.html
Ode Triunfal
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical —
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força —
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro.
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
há Platão e Virgíllo dentro das máquinas e das luzes eléctricas
porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinqüenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
(...)
Álvaro de Campos
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Ondjaki e Max Richter

convidei uma chuva silenciosa
a fazer aparição num poema.
[tive que pedir licença ao assobiador. ele acedeu].
era uma chuva quase triste,
vivia consumida de se esvair.
"chego sem fazer barulho pra ninguém
se lembrar de me evitar".
era uma chuva quase bonita.
tinha muita tendência poética
-isto me parecia óbvio.
tinha também alguma incapacidade para entender
o desejo humano
de pisar um chão seco.
depois de o assobiador eixar aquela aldeia
calculei que ninguém mais fosse acariciar
aquela chuva.
era uma chuva carente
-isso me pareceu óbvio também.
lhe atribui este lar provisório
e logo se verá
o daqui pra frente.
isso me espanta nas coisas
que não pertencem ao foro das pessoas:
a chuva aceitou ficar.
vive actualmente
na leitura [mesmo que desatenta]
de um poema.
o barulhar dessa chuva
é uma espécie de pequena mentira.
dizem que as crianças lhe conseguem escutar.
dizem que os gambozinos lhe pressentem
e nela, por vezes,
se deixam vislumbrar.
dizem.
Ondjaki, Materias para confecção de um espanador de tristezas
A Última Colina - Urbano Tavares Rodrigues
É muito agradável a leitura de todos os contos d' "A Última Colina" de Urbano Tavares Rodrigues, este escritor tão sensível à poesia das coisas. Como se pode ouvi-lo dizer neste breve videoclipe, cheio de serenidade e ternura, são várias os estilos cultivados nos diversos contos, desde aqueles de pendor mais realista como "Judas", onde se questionam os problemas sociais mais actuais até àqueles que tocam o onirismo e o realismo mágico (os meus preferidos) nos quais se constroem personagens que explicam a beleza e a essência da vida como por exemplo o narrador do conto “O Cavalo da Noite” (conto editado para um público infanto-juvenil, pela Dom Quixote, na colecção “Moinho de Vento” com ilustrações de Raffaello Bergonse muito fieis ao texto). Vale a pena conhecer os contos mais recentes (2008) deste nosso querido e valeroso escritor.
"Apareceu de madrugada e ninguém sabia de onde vinha. Era um cavalo tão preto que parecia azul, da cor das noites profundas. Tinha corrido sem destino pelas planícies do Alentejo. Quando avistou a brancura do «nosso» monte, parou. Veio depois bater com a pata à porta grande da cozinha.
Fui eu que o ouvi primeiro, relinchou, aproximou de mim o focinho e lambeu-me a testa e os cabelos. Tinha nos olhos muito pretos uma água de amizade. (...)"
O Cavalo da Noite
domingo, 3 de janeiro de 2010
Max Richter - Written in the Sky
Andrew Bird - Tables and Chairs
http://www.youtube.com/watch?v=UjKpHnF_sRg
Já agora, dá uma espreitadela a um concerto de Andrew Bird e à interpretação deste mesmo tema.
http://www.youtube.com/watch?v=RfoOvJuQuC0
A entrevista de Eduardo Lourenço ao JL
La última entrevista a García Lorca
Decido transcreve-la e partilhá-la contigo, amiguinha....
Dos meses antes de su muerte, el escritor confesaba sus inquietudes al ilustrador Bagaría: "Execro al hombre que se sacrifica por una idea nacionalista sólo porque ama a su patria con una venda en los ojos"
El 10 de junio de 1936, en las páginas del diario'El Sol' se publicaba el resultado de un encuentro entre dos de las personalidades más populares de la cultura de la España republicana: el bohemio periodista y caricaturista Luis Bagaría y Federico García Lorca. Bajo el título de 'Diálogo con García Lorca', el texto ha pasado a la posteridad como la última entrevista realizada al poeta, si bien hay que aclarar que el texto -recuperado en el libro 'Caricaturas republicanas' editado por Rey Lear-, reproduce más bien un intercambio de impresiones en el que ambos personajes se preguntan el uno al otro acerca de cuestiones diversas
SALVADOR RODRÍGUEZ (INTRODUCCIÓN Y TRASNCRIPCCIÓN)
A CORUÑA Al paso de los años, aquella entrevista ha ido adquiriendo un valor insospechado. No debemos olvidar que tan sólo un mes y ocho días después de su publicación estallaba la Guerra Civil: el 19 de agosto de 1936 Federico García Lorca era asesinado y, para evitar que le ocurriese lo mismo, a Luis Bagaría no le quedaría otra salida que emprender el camino del exilio, primero a París y después a La Habana, donde falleció en 1940.

-L.B.: ¿Crees tú que al engendrar la poesía se produce un acercamiento hacia un futuro más allá, o al contrario, hace que se alejen más los sueños de otra vida?
-G.L.: La creación poética es un misterio indescifrable, como el misterio del nacimiento del hombre. Se oyen voces no se sabe dónde, y es inútil preocuparse de dónde vienen. Como no me he preocupado de nacer, no me preocupo de morir. Escucho a la naturaleza y al hombre con asombro, y copio lo que me enseñan sin pedantería y sin dar a las cosas un sentido que no sé si lo tienen. Ni el poeta ni nadie tiene la clave del mundo. Quiero ser bueno. Sé que la poesía eleva, y siendo bueno con el asno y con el filósofo, creo firmemente que si hay un más allá tendré la agradable sorpresa de encontrarme con él. Pero el dolor del hombre y la injusticia constante que mana del mundo, y mi propio cuerpo y mi propio pensamiento, me evitan trasladar mi casa a las estrellas.
-L.B. : ¿No crees, poeta, que sólo la felicidad radica en la niebla de una borrachera, borrachera de labios de mujer, de vino, de bello paisaje, y que al ser coleccionista de momentos de intensidad se crean momentos de eternidad, aunque la eternidad no existiera y tuviera que aprender de nosotros?
-G.L.:Yo no sé en qué consiste la felicidad. Si voy a creer al texto que estudié en el Instituto, del inefable catedrático Ortí y Lara, la felicidad no se puede hallar más que en el cielo; pero si el hombre se ha inventado la eternidad, creo que hay en el mundo hechos y cosas que son dignos de ella, y por su belleza y trascendencia, modelos absolutos para un orden permanente.
-L.B.: ¿No crees que tenía más razón Calderón de la Barca cuando decía 'Pues el delito mayor/del hombre es habr nacido' que el optimismo de Muñoz Seca?
-G.L.: El optimismo es propio de las almas que tienen una sola dimensión: de las que no ven el torrente de lágrimas que nos rodea, producido por cosas que tienen remedio.
-L.B.: ¿No crees Federico, que la patria no es nada, que las fronteras están llamadas a desaparecer? ¿Por qué un español malo tiene que ser más hermano nuestro que un chino bueno?
-G. L.: Yo soy español integral, y me sería imposible vivir fuera de mis límites geográficos; odio al que es español por ser español nada más. Yo soy hermano de todos y execro al hombre que se sacrifica por una idea nacionalista abstracta por el solo hecho de que ama a su patria con una venda en los ojos. El chino bueno está más cerca de mí que el español malo. Canto a España y la siento hasta la médula; pero antes que esto soy hombre de mundo y hermano de todos. Desde luego, no creo en la frontera política.
A continuacion Bagaría inquiere a Lorca por las dos 'cosas' que, a su juicio, 'tienen más valor en España: el canto gitano y el toreo'. Al respecto de este último, responde el poeta:
-G.L.: El toreo es, probablemente, la riqueza poética y vital mayor de España, increíblemente desaprovechada por los escritores y artistas, debido principalmente a una falsa educación pedagógica que nos han dado y que hemos sido los hombres de mi generación los primeros en rechazar. Creo que la de los toros es la fiesta más culta que hay hoy en el mundo. Es el drama puro, en el cual el español derrama sus mejores lágrimas y sus mejores bilis. Es el único sitio donde se va con la seguridad de ver la muerte rodeada de la más deslumbradora(sic) belleza.
-L. B.: ¿Qué poetas te gustan más de la actualidad española?
-G. L.: Hay dos maestros: Antonio Machado y Juan Ramón Ramón Jiménez. El primero, en un plano puro de sinceridad y perfección poética; poeta humano y celeste, evadido ya de toda lucha, dueño absoluto de su prodigioso mundo interior. El segundo, gran poeta,turbado por una terrible exaltación de su yo, lacerado por la realidad que lo circunda, increíblemente mordido por cosas insignificantes, con los oídos puestos en el mundo, verdadero enemigo de su maravillosa y única alma de poeta