terça-feira, 25 de maio de 2010

EDOARDO SANGUINETI

Para lembrar o poeta italiano falecido recentemente, Edoardo Sanguinetti, uma frase sobre a sua poesia:

"Toda a minha obra poética é uma escrita contra o esquecimento"


“Nascido em Génova, em 1930, o seu nome destaca-se entre os mais importantes poetas, autores de peças de teatro, críticos, romancistas, ensaístas e activistas italianos. Sanguineti passou também pela política, ao ser deputado independente pelo PCI entre 1978 e 1983.

Indicado como um dos maiores especialistas em Dante foi professor de Literatura nas universidades de Turim, Génova e Salerno. Enquanto activista, foi um dos fundadores do controverso Grupo 63, onde a poesia experimental explorava o que considerava ser a “dissolução” da linguagem quotidiana. Os jogos de palavras por que era conhecido levaram a “Laborintus”, o seu primeiro livro de poesia publicado em 1956, e a várias outras obras.


Afirmando-se como “o poeta mais patético do século XX”, escreveu poemas até 2004 e após o fim da sua carreira académica, em 2000, passou a dedicar-se à militância da esquerda radical, prosseguindo, no entanto, com a escrita.”

In http://www.publico.pt/

Este poeta e intelectual, crítico e ensaísta foi um dos teóricos mais importantes do "Gruppo 63", o movimento cultural que revolucionou nos anos 60 a literatura italiana, juntamente com Umberto Eco, Nanni Balestrini, Alfredo Giuliani e Elio Pagliarani .

Um poema com tradução de Maurício Santana Dias:

[em ti dormia como um fibroma enxuto...]

em ti dormia como um fibroma enxuto, como uma tênia magra,
[um sonho;
agora pisa o pedrisco, agora espanta a própria sombra; agora grita
deglute, urina, tendo sempre esperado o gosto
da camomila, a temperatura da lebre, o rumor do granizo,
a forma do teto, a cor da palha:
......................sem remédio o tempo
voltou-se para os seus dias; a terra oferece imagens confusas;
saberá reconhecer a cabra, o camponês, o canhão?
não estas tesouras realmente esperava, não esta pera,
quando tremia naquele teu saco de membranas opacas.

Desta vez com tradução de Egito Gonçalves:

1.

falemos, por favor, dos prazeres da vida, por uma vez (disse eu
à mulher de Van Rossum, na segunda-feira às 11 horas): (que é alemã de Munique,
realmente, com menos de 30 anos, creio, branca de pele como clara de ovo): e o primeiro
prazer é o de penetrar, evidentemente: e depois, para mim, dormir ao sol (como dormia agora,
disse eu, antes de ela chegar: torso nu como podia ver, e pés
descalços, etc.): e o terceiro é beber vinho (francês, se possível, como aquele
que bebemos no sábado com Berio, e também na sexta-feira em Roterdão e aqui):
(e concluí que o paraíso será penetrar ao sol, talvez encharcados de Saint-Emilion):...

2.

Ensinei aos meus filhos que o pai foi um homem extraordinário: (poderão
contá-lo assim a qualquer um, um dia, se o quiserem): e depois que todos
os homens são extraordinários:
e que de um homem sobrevivem, não sei,
pelo menos umas dez frases, talvez (juntando tudo: os tiques,
os ditos memoráveis, os lapsos):
e isso nos casos afortunados:


Para terminar deixo uma amostra do seu Alfabeto Apocalíptico:


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