Desperta a polémica a crónica de Valter Hugo Mãe do último JL acerca de Marina Abramovic, uma artista jugoslava que pretende dar a si própria a importância de um objecto de arte. Lê para mais tarde discutirmos o conceito alargado ( e estapafúrdio?) em que a arte se inscreve nos nossos tempos... Transcrevo um excerto dessa Autobiografia Imaginária que me fez pensar.
A ARTE É UMA ARTISTA - VALTER HUGO MÃE
A ARTE É UMA ARTISTA - VALTER HUGO MÃE
Marina Abramovic está sentada diante de nós. Intitulou à sua majestosa retrospectiva The artist is present, e é a sua presença, aparentemente tão simples, o ponto fulcral de todo um percurso genial nas artes durante quatro décadas.
Acontece no Moma (Museum of Modern Art, em Nova Iorque) e, as milhares de pessoas que para ali se encaminham a ver Marina, que há tantos anos não se expunha, deslumbram-se com o desarmante modo como nos é devolvida a arte, despida da parafernália de matérias ou movimentos, para ser simplesmente a presença da artista, diria que madura, intensamente madura, derramando por sobre o espectador a sua energia enfim equilibrada, dominada, esplendorosa.
Marina Abramovic está sentada numa cadeira ao centro de um grande quadrado desenhado no chão. À sua frente uma outra cadeira que, à vez, é ocupada por um espectador. A fila para os que querem a oportunidade de ficar olhos nos olhos com a artista pode ser frustrante de tão grande. A mim levou-me quarenta minutos a conseguir a cadeira, tendo eu feito fila à porta do museu bem de manhã antes de as portas abrirem.
Entramos para dentro do quadrado desenhado no chão, sentamo-nos na cadeira que nos está reservada e colocamos as mãos nas pernas, como faz Marina. É inevitável queremos fazer como ela faz, parece que somos levados a crer que existe um modo perfeito para simplesmente sentar diante de alguém. Depois, ela levanta a cabeça, abre os olhos e não sorri. Simplesmente existe diante de nós com o impressionante ar de quem está absoluto no seu ser. Um rosto muito belo, a idade toda a seu favor, o vestido longo cortando pelo chão como alma larga, delicada e tão confortável. O espectador demora o quanto quiser, mas a demora é toda uma busca dentro de nós, procurando equiparar-nos minimamente com a intensidade da artista. Procuramos dentro de nós essa humanidade tão consciente e superior que se despe e vulnerabiliza com o outro, sem dramas, nenhuma tragédia, apenas a vibrante contingência de existir, existir o melhor possível, na plenitude das nossas capacidades. Afinal o que Marina Abramovic faz é mostrar que a arte é uma artista, a arte é a artista, posta diante do espectador como manifestação bastante do que procuramos, afinal, quando questionamos tudo. (…)”
JL, Autobiografia Imaginária
Não resisti em procurar o rosto desta mulher e o que encontrei abalou-me tanto como o texto... Em NY é assim, há coisas que dão que falar... Vê:
1 comentário:
Amiguinha
logo que possa lerei ou melhor devorarei a dita crónica para poder trocar impressões contigo! imagino já uma discussão emocionada de pontos de vista e repleta de imagens ou viagens... muitas viagens...
beijos amiguinha, repletos de sons replicando a saudade
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