«A presente edição, agrupando pela primeira vez num único tomo a obra poética da autora, segue e actualiza os critérios de fixação de texto adoptados na segunda das referidas séries, a série das edições «revistas». Publica-se igualmente, neste volume, um conjunto de poemas dispersos em revistas, em livros colectivos, em jornais e num cartaz, desde textos que remontam à primeira fase da produção de Sophia, dos anos 1940, até aos últimos poemas escritos em 2001. Alguns destes textos já foram dados a conhecer na antologia Mar, a partir da 5.a edição, saída em 2004 (selecção e organização de Maria Andresen de Sousa Tavares). Não se inclui no presente volume um número considerável de poemas inéditos, que integram O espólio da autora, e que aguardam publicação em futura edição crítica.»
A sensação que tive ao entrar no ano novo com esta Obra Poética nas mãos foi a de possuir uma esfera de cristal que quanto mais se contempla mais mar traz até nós. Há uma transparência na poesia de Sophia a que só ela sabe dar voz. Um apelo à origem, um retrocesso ao elemento Água que desfaz toda a sabedoria posterior e nos faz reconhecer em todas as coisas o Índício de toda a emoção humana. Essa simplicidade de uma linguagem pura e desprovida de artificialismo desperta o primeiro sentido de tudo o que nos cerca, fazendo-nos ver a palavra como um naco de verdade submersa nos traços poéticos de um sentir universal. Ler um poema como se entre o meu olhar e as palavras negras inscritas nas folhas brancas se intrometesse um líquido translúcido,quase morno, levemente agitado pelos dedos que apontam as entrelinhas, que apontam as letras...uma sensação de um acordar de verão a entrar na praia cheio de uma luz tão clara que aquece tudo o que se vê, e torna o real numa transcendência à mão da leitura - real daqueles que gostam de pressentir proximamente o golpe da Criação.
UM PÁLIDO INVERNO
Um pálido inverno escorria nos quartos
Brancos de silêncio como a névoa
Um frio azul brilhava no vidro das janelas
As coisas povoavam os meus dias
Secretas graves nomeadas
Sophia de Mello Breyner Andresen, Dual
UM PÁLIDO INVERNO
Um pálido inverno escorria nos quartos
Brancos de silêncio como a névoa
Um frio azul brilhava no vidro das janelas
As coisas povoavam os meus dias
Secretas graves nomeadas
Sophia de Mello Breyner Andresen, Dual
1 comentário:
Amiga tão linda
as tuas palavras brilham de emoçao ainda mais quando falas de MAR e de SOPHIA!!!! E que conjugaçao fantástica.... percebo-te qunado falas nesse fluido intersticial...
Adorei o poema... adoro Sophia... que ALMA!!!!
beijos amiguinha
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