" Não sei se recebeu o meu postal da Grécia. Fui de automóvel com a Agustina B. Luís até Brindisi onde tomámos o barco. Passámos por Turim, Milão, Veneza, Pádua, Verona, Ravena, Rimini, Termoli. À volta passámos por Pompeia, Nápoles, Roma, Florença. Não tento descrever-lhe a Grécia nem tento dizer-lhe o que foi ali a minha total felicidade. Foi como se eu me despedisse de todos os meus desencontros, todas as minhas feridas e acordasse no primeiro dia da criação num lugar desde sempre pressentido. Sobre a Grécia só o Homero me tinha dito a verdade: mas não toda. (...) É uma atitude de ligação com o real que está presente em todas as coisas. Só em Esquilo se pode encontrar um reflexo deste espírito que está presente, inteiramente presente, nas ruínas despedaçadas dos templos gregos. Gostaria de lhe contar tudo o que vi, desde o sabor espantoso do vinho com resina que me entonteceu logo na primeira noite da minha chegada, até à água gelada que bebi num dia intenso de intenso calor nas montanhas de Delfos. Mas sinto que só sei falar mal disto tudo.
Aqui minha fala se quebra como a quem
Viu em sua frente um deus visível
E vai sem imaginação, perdidas as palavras
No real indicivel"
Sei que compreendes o que me fascina nestas páginas de sucessivas confissões de Sophia, nas quais como José Manuel dos Santos disse "as vozes de Sena e Sophia são-nos dadas na sua nítida nudez".
Espero que te encantes com esta pequena amostra, como eu me deixei encantar.
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