O POEMA (Sophia de M. B. Andresen)
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
(à Pat com ternura, porque a amizade também é a nossa casa)
(Pat: ofereço-te este magnífico poema e esta música sofrida pois acredito que também as tuas palavras, que te rasgam por dentro tantas e tantas vezes e te pedem para se soltar, são poderosas e com elas alcanças o infinito)
3 comentários:
Apesar das ruínas e da morte
Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Não tenho rosas nem sorrisos que agradeçam como devo a tua amizade.Encanta-me saber que tu, que tão bem sabes explicar o mundo com a tua Física, acredites em mim e no que te vou dando aos soluços, num verdadeiro "poema descontínuo".
Como já sabes, raros são os poemas que me fascinam como os de Sophia e Pessoa. Este que me ofereces é inexplicável, e como ela própria diz não se explica, implica.
És grande na amizade- este post é uma prova da tua grandeza.Mil bjs, linda amiga.
Hélder,
obrigada por este poema de Sophia que demonstra que no poema mais pequeno nos podemos revelar ao outro, como um fruto sumarento, aberto ao meio, sem remédio nem costura...
Fico contente por passeares connosco por estes caminhos poéticos.
Patrícia F.
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