segunda-feira, 14 de junho de 2010

AVENIDA NÉVSKI - NIKOLAI GÓGOL

Sinopse:
"O espaço de privação, de sofrimento e de alienação que é a Petersburgo gogoliana cristaliza-se aqui na sua artéria principal — a Avenida Névski. Famosa é a descrição inicial da grande avenida — como num filme expressionista alemão, passam-nos diante dos olhos as figuras fragmentadas dos passeantes: pés, olhos, chapéus, braços, bigodes, casacas, galões de oficial… em loucos movimentos autónomos. […]
O conto assenta em três personagens principais: a cidade, um jovem pintor e um jovem oficial: ao jovem pintor roubam-lhe o sonho e tem um fim trágico; o jovem oficial, estouvado, realista e resignado não consegue a compensação mínima por que se esforça — o amor físico de uma alemã — e consola-se comendo uns bolos; a cidade (a Avenida Névski) assiste a tudo e é culpada de tudo…”
Filipe Guerra

Foi este o livro com que Gonçalo M. Tavares se fez acompanhar em S. Petersburgo, tendo lido algumas passagens deste livro de Nikolai Gógol sobre a imponente Avenida Névski em plena Avenida Névski . Como também a conheço do desenho que a literatura faz dela deixo um excerto de que também gosto particularmente:

«Milhares de modelos de chapéus, de vestidos, de lenços - leves, multicolores -, aos quais chega a manter-se por dois dias a afeição das suas possuidoras, deslumbram qualquer um na Avenida Névski. Parece que todo um mar de borboletas levantou subitamente voo dos ramos e ondula como nuvem brilhante sobre os escaravelhos pretos do sexo masculino. Encontrarmos aqui cinturas com que nunca sonhámos: delgadinhas, tão finas que nunca vão além da grossura de um gargalo de garrafa e das quais, ao cruzarmo-nos com elas, nos afastaremos respeitosamente para que as não molestemos, por acaso e imprudência, com o cotovelo mal-educado; apodera-se do nosso coraçao a timidez e o medo de que um gesto nosso, mesmo um simples descuido na respiração, possa quebrar aquela encantadora obra da natureza e da arte. E que mangas de senhoras encontraremos na Avenida Névski! Ah, que maravilhas! Lembram um pouco dois aeróstatos, pelo que a senhora levantaria voo de repente se não fosse segurada por um homem; porque é tão fácil e agradável levantar ao ar uma senhora como levar aos lábios uma taça de champanhe. Em lado algum se trocam vénias, no momento do encontro, de maneira tão nobre e espontânea. Encontraremos aqui um sorriso único, um sorriso que é o cúmulo da arte, um sorriso que às vezes nos derrete de prazer; (...)Achamos aqui pessoas que falam de um concerto ou do tempo com uma nobreza extraordinária e uma dignidade muito própria. Encontraremos aqui um milhar de caracteres e de fenómenos inconcebíveis. Nosso Senhor!, que caracteres estranhos é possível encontrar na Avenida Névski!»

pp.18, 19, 20

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