sexta-feira, 25 de junho de 2010

DIÁRIO IMPERFEITO

Descobri que o meu gato guarda na garganta um motor de afectos que faz barulho ao arranque e custa muito a desligar-se. Por vezes, ao constatar que se transforma numa espécie de máquina, só por gostar de mim, fico assustada e penso que temos muita sorte por podermos ficar com mimo em silêncio ou amarmos alguém sem qualquer espécie de barulho maquinal.
Como é muito branquinho assemelha-se a um pedaço de neve mas mal lhe fazemas uma festa no pêlo que é longo , dissipa-se qualquer semelhança porque é quente como um cachecol de inverno. Parece neve ao contrário e traz uma ternura nos olhos azuis (ou vermelhos de vez em quando) que só apetece pedir-lhe muito para ele nunca mudar de cor nem de estilo. Um estilo afectuoso, delicado com um pouco de exibicionismo à mistura. Os olhos, esses, são o contrário da língua, macios como um céu cheio de nuvens. Por isso sinto-me num céu quando cruzamo olhares. Suspeito que gosta de livros como eu pois quer virar-lhes as páginas...é um leitor muito ágil e gosta de dar conta de tudo primeiro do que os meus olhos. Também já sei que adora as letras do teclado do meu computador porque as suas patinhas dianteiras adoram tocar-lhes como se compusessem quaquer música felina que só ele entende, só ele recorda.
Dá esperança um gato branco. Apesar de ter pêlo branco é jovem e sente-se que quer viver tudo num único miar. Há sensivelmente 5 dias tornou-se irremediavelmente parte da minha vida. Espero que nunca mude a cor do seu pêlo de neve. E que mantenha esse motor esquisito de afectos mais uns bons tempos para que eu possa entendê-lo melhor.

2 comentários:

Leitoras SOS disse...

Doçura

Eu sabia que o gato se interessaria pelos teus livros! E ainda não lhe leste o gato das botas?
Estou curiosíssima por vê-lo... tenho a certeza que é um gato cheio de sorte!

Muitos beijos
anabela

Leitoras SOS disse...

Doçura:

quanta escrita! quanta amizade depositas neste sítio! Conseguirei algum dia retribuir-te? Vou tentar ler mas nao prometo... aos poucos.
beijos
anabela