18 de Junho de 2010
Penso muitas vezes no que o meu irmão disse um dia, por graça, junto da minha mãe, depois do abraço de despedida a uma amiga que tinha levado a nossa casa para almoçar, sem aviso prévio. Mas hoje pensei mesmo a sério nessas palavras. Nesse momento em que mal ela fechou a porta da rua, desafiou o humor da minha mãe:
«- Se as mulheres tivessem as mamas nas costas, não era pior...»
Lembro-me de detestar o meu irmão. Por aquelas palavras, pelo riso final de parvo, pela corrida covarde que teve que fazer até ao quarto que trancou para não levar um estalo irritado da minha mãe.
Muitas vezes me lembro dessa ideia que teve, que mais parecia um daqueles desenhos a carvão que fazia na perfeição, e hoje, pela manhã, depois de ter batido num carro estacionado atrás do meu enquanto fazia marcha atrás, cheguei mesmo a ver em algumas costas de mulheres que passavam na rua, nesse momento turvo em que me encontrava, as mamas que ele idealizou naquela tarde da minha pré-adolescência, tão descaradamente. Aliás, não sei bem se o que entrevi nas costas dessas mulheres ocasionais foram as tais mamas arquitectadas pelo meu irmão, se foram dois olhos grandes, atentos e pestanudos.
Sim, confesso que foi claro o meu desejo. Ter dois olhos nas costas. De preferência sem miopia e sem astigmatismo ou qualquer outro tipo de anomalia ocular. Seria muito mais atraente e menos ridícula em situações de embate automobilístico em marcha atrás. Podia até vir de marcha atrás desde o parque de estacionamento da minha escola até à garagem da minha casa, não temendo qualquer incidente, distracção, nada de nada nesses 40 km. E quando passasse por carros conduzidos por homens, poderia buzinar até mais não para que não lhes escapasse que sendo mulher, sabia andar de marcha atrás como mais nenhuma mulher, sem arriscar dar cabo dos seus incríveis carros (aqueles em que bati quase todos a necessitar de urgentes remodelações!) e ter que lhes explicar que para além de eles estarem a estorvar com o seu veículo nos sítios que escolhem para os estacionar, estão ainda a tentar passar-me a perna a ver se podem arranjar mais um estrago que o meu seguro cubra porque as mulheres ao volante não sabem o que fazem, muito menos quando têm que fazer marcha atrás, só com os dois olhos que têm no rosto.
Penso muitas vezes no que o meu irmão disse um dia, por graça, junto da minha mãe, depois do abraço de despedida a uma amiga que tinha levado a nossa casa para almoçar, sem aviso prévio. Mas hoje pensei mesmo a sério nessas palavras. Nesse momento em que mal ela fechou a porta da rua, desafiou o humor da minha mãe:
«- Se as mulheres tivessem as mamas nas costas, não era pior...»
Lembro-me de detestar o meu irmão. Por aquelas palavras, pelo riso final de parvo, pela corrida covarde que teve que fazer até ao quarto que trancou para não levar um estalo irritado da minha mãe.
Muitas vezes me lembro dessa ideia que teve, que mais parecia um daqueles desenhos a carvão que fazia na perfeição, e hoje, pela manhã, depois de ter batido num carro estacionado atrás do meu enquanto fazia marcha atrás, cheguei mesmo a ver em algumas costas de mulheres que passavam na rua, nesse momento turvo em que me encontrava, as mamas que ele idealizou naquela tarde da minha pré-adolescência, tão descaradamente. Aliás, não sei bem se o que entrevi nas costas dessas mulheres ocasionais foram as tais mamas arquitectadas pelo meu irmão, se foram dois olhos grandes, atentos e pestanudos.
Sim, confesso que foi claro o meu desejo. Ter dois olhos nas costas. De preferência sem miopia e sem astigmatismo ou qualquer outro tipo de anomalia ocular. Seria muito mais atraente e menos ridícula em situações de embate automobilístico em marcha atrás. Podia até vir de marcha atrás desde o parque de estacionamento da minha escola até à garagem da minha casa, não temendo qualquer incidente, distracção, nada de nada nesses 40 km. E quando passasse por carros conduzidos por homens, poderia buzinar até mais não para que não lhes escapasse que sendo mulher, sabia andar de marcha atrás como mais nenhuma mulher, sem arriscar dar cabo dos seus incríveis carros (aqueles em que bati quase todos a necessitar de urgentes remodelações!) e ter que lhes explicar que para além de eles estarem a estorvar com o seu veículo nos sítios que escolhem para os estacionar, estão ainda a tentar passar-me a perna a ver se podem arranjar mais um estrago que o meu seguro cubra porque as mulheres ao volante não sabem o que fazem, muito menos quando têm que fazer marcha atrás, só com os dois olhos que têm no rosto.
5 comentários:
Querida amiga, não haja dúvida o mundo cada vez mais é das mulheres, com ou sem olhos nas costas não há homem que nos "passe a perna".
Minha amiga querida,
fazes-me rir com este comentário...pois não sou a condutora que tu és!Aliás costumo dizer que tudo o que gosto de fazer faço bem com excepção da condução: adoro conduzir pela sensação de força, de poder e de liberdade mas...conduzo muito mal!A mim nem os olhos nas costas me safavam... Mil bjs e saudades.
Patrícia
De facto, cara amiga, nem que sejamos a "melhor condutora do mundo" seremos sempre rotuladas do contrário pela maior parte dos homens! Quando conseguirmos cuspir pelo vidro com o carro em andamento, arrancar num semáforo "à três duques" para o condutor do lado não nos ganhar e dirigir olhando para os outros condutores, gesticulando e proferindo os piores palavrões (tudo ao mesmo tempo e não necessariamente por esta ordem)mostrando o "dedo expressivo", aí talvez consigamos ser aceites no clube...Entretanto, e como temos as mamas e os olhos no sítio, vamos batendo nos carros que vamos encontrando e rindo por ainda não sermos perfeitas.
( ouvi dizer que já há carros com câmaras na parte traseira do veículo que são activadas quando introduzimos a marcha atrás – acautelem-se homens...)
Ivete Baptista
Ivete,
conseguiste mostrar-me que o carro (e a condução) transforma todos os homens num só. Mil bjs minha querida condutora.
Pat F.
Querida Ivete,
como o teu texto me mostrou tão bem que o carro e a sua condução transforma todos os homens num só ser - sui generis q.b.. Apesar de tudo traz alegria ver esse único homem conduzir. Há uma data de sinais e de gestos e de palavras que nunca ocorrerão com tal dramatismo em nenhuma outra situação.
Que o teu humor se mantenha para todo o sempre. Amen.Bjs
Pat F.
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