sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

XXV

Eu gosto disto aqui, da reserva com que escrevo
e lanço fogo sobre o indiviso fogo da escrita.
Eu gosto de cidades que se desenham, sobre a mesa
do sangue dispostas e repetidas no pretérito,


como se de massas escuras se tratasse,
tomadas de assalto pela linguagem, mas não são


linguagem tais cidades amadas, nem sequer
erva tumultuada pelo vário vento da terra.


Eu ainda sei o que é o nó desatando-se,
o mesmo que Frost disse estar na garganta


e que nos persegue como motivo e enigma,
como disparos de células nervosas transparecendo


[o obscuro desejo.


Eu gosto disto aqui, deste lugar, desta clarividente
margem dos dedos pensando sobre o rosto fechado.


Luis Quintais, Riscava a palavra dor no quadro negro, 2010

1 comentário:

Caridee disse...

olho o poema de frente, sinto as suas palavras escarlate e neste momento tenho o nó na garganta que ainda n se desata. persegue-me e queima-me a alma a cada segundo que passa. os dedos correm num teclado exausto e os pensamentos fluem num mundo discreto de palavras e cores estranhas. talvez sejam essas cidades desenhadas, mas que para mim, neste momento, não são mais que lágrimas caídas ao som do piano fraco e triste.
lembro sorrisos fechados, imensamente caiados de uma dor ainda fresca mas já muito esquecida.