Simon Hemmer, The Fury, 2008
Albert Oehlen
Loris Lombardo
O primeiro quadro, de Simon Hemmer, pintor-seguidor-aprendiz de Albert Oehlen, exprime a desintegração (ou a integração, tu decides...) do universo, todo ele em pleno alvoroço destrutivista ou criacionista ( ???) e foi nesta fúria metafísica que encontrei o motivo da oferta desta obra de arte onde a cor prepara a implosão final numa espécie de névoa emergente que impressiona o espectador num contraste cromático que quase vicia o olhar. Podes vê-lo em exposição algures (não fixei o nome da galeria!) na cidade de Amesterdão. Vamos lá um destes dias?
O segundo quadro, de Albert Oehlen, o pintor alemão considerado o grande revolucionário da arte abstracta contemporânea, foi a primeiríssima escolha para a decoração deste post dedicado ao teu aniversário. A obra dele encontra-se em exposição (intitulada “ Realidade Abstracta”) em Paris no Museu de Arte Moderna e é interessantíssima... Na revista Vogue de Dezembro (na edição espanhola) Oehlen dá-se a conhecer numa interessante entrevista. A sua trajectória no mundo da pintura é diversificada, recheada de mudanças e constantes transgressões. Passou do estilo figurativo para o abstracto, da colagem para o chamado “computer painting”, valendo mesmo a pena conhecer as suas obras tão ricas e multifacetadas. Com excesso de humildade (que na voz e nos gestos de alguns “fora de série” me irrita em demasia), Oehlen confessa, logo no início da entrevista, algumas palavras inesperadas :“É impossível pintar pior (…) Não tenho nenhuma garantia de que no final me tomem a sério.”
A pintura que dele escolhi para dar cor ao teu aniversário não tem maior pretensão do que oferecer-te um ramalhete de flores abstractas, num gesto artístico em que leio muita amizade. O corpo da figura humana representada, apesar de parecer masculino, é comprovadamente feminino pelo poder transfigurativo da palavra que o pintor lhe inscreve, à maneira de Magritte. Achei isto genial. Isto e tudo o resto, feito de tinta e imaginação. Só comprovei uma vez mais que mais do que a beleza de um rosto, o que interessa é o coração e os gestos que o animam.
O terceiro quadro, do pintor napolitano Loris Lombardo, agradou-me por me lembrar de um qualquer nascimento. Talvez devido à expressão de uma forte desprotecção que essa criança exibe e, por extensão, da impotência com que qualquer ser humano se vê confrontado perante a desajustada luta entre o frio e a completa nudez. A meu ver, a primeira roupa devia vir agarrada à pele. Isto seria o ideal para precaver a situação da criança que nasce na pobreza ou que tem uma mãe ou um pai loucos. A morte é, neste aspecto, mais confortável, pois não vamos nus para debaixo da terra… Há sempre alguém com a coragem e a bondade de vestir o morto. Agradou-me a expressão inexpressiva da criança a contrastar com a sua posição cruzada dos braços, funcionando como uma invocação desesperada e agónica e apaziguando toda a falta de expressividade humana. Adoro as cores de fundo que pintam o real, a chuva geométrica, multicolor e angulosa e, finalmente, o aspecto estranho de um cabelo vivo que mais parece uma vista parcelar do globo terrestre.
Espero que gostes tanto como eu destas três pinturas, destes três pintores, que te dizem, cada qual à sua maneira, “Parabéns Anabela”!