sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A viagem da Pat

Nadir Afonso

"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
Não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere O "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
Chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
Simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!"
  
Pablo Neruda

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Receita para que não murchem (nem se assista à sua agonia, que é obsceno) amores plantados nas margens do rio vida-vidinha

Magritte, A Leitora Submissa

(Há textos a que me submeto irremediavel e inteiramente. Este foi-me oferecido pela Filomena após a sua leitura de "Materiais para confecção de um Espanador de Tristezas" de Ondjaki. Por ser verdade o que me disse (que esta última obra é um esplêndido instrumento contra qualquer tipo de infelicidade), comprei-o duas vezes. É igualmente verdadeiro o facto deste livro ser inspirador da escrita lúdica e uma obra de arte de referência que deve constar em qualquer
oficina de escrita criativa. O ideal seria juntar estas duas personalidades magníficas: Filomena e Ondjaki. Deixo o poema para não o distanciar muito mais do título que o explica).

Há que ser árvore antiga e ter o tronco oco recheado de silêncios e os ramos carregados de palavras frescas e maduras.
É preciso ter cuidados de peixe para desovar carinhos em covas de abraços ao abrigo da boca do Tempo.
Deve haver um princípio activo de Primavera que alcatife o quarto com flores chamadas desejos, sorrisos, beijos, risos.
Não deve faltar a sabedoria dum perito em desminações de mal-entendidos com ferramentas lógicas.
Há que ser pássaro para estar pronto a levantar voo antes que marés amargas inundem as margens de lodo.

Filomena Teixeira
Já agora deixo um dos meus poemas preferidos desse mesmo livro do mesmo maravilhoso Ondjaki. É óptimo ondjakiar lentamente, soprando o mais levemente possível estas palavras obscenas (ou ondjakiscenas?):
O Obsceno, A Obscena
era que: obsceno, ou obscena, eram palavras bonitas.
adoro apreciar um corpo pela obscenidade - fica bonito
até excitar a comoção.
já vi uma boca obscena que era um poema vivo.
uma mão obscena já me desconcentrou a existência.
línguas obscenas trazem paz ao caos de um orgasmo.
mais até:
uma vez, uma nuvem obscena fez o arco-íris corar.
o céu ficou lindo.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A Fotografia (A História do Vampiro de Belgrado) - Gonçalo M. Tavares

Um excerto deste conto:
(…)
3.
Se, de um lado, do lado de fora da porta, a noite fazia, com a paisagem, uma paisagem nocturna, do outro lado a noite era uma estranheza obscena.
Neste lado meio-diabólico (palavra que representa o dobro da quantidade de maldade que existe num espaço apenas diabólico por inteiro. Meio-diabólico: ainda mais indefinível, pois), neste espaço então a paixão fazia abanar o pequeno globo que alguém colocara docemente sobre a mesa de jantar. Com o balançar que dos movimentos rápidos da fornicação passara para o soalho de madeira, depois para as pernas da mesa e por fim, para o globo, fazendo tremer, como nunca a costa de África, o centro da Europa, a América e todo o globo de uma forma solidária e sincronizada como jamais o mais poderoso terramoto conseguira.
Meio-diabólico, sim, mas que nomes tinham ele e ela?
Ela era uma prostituta que não lera uma das primeiras entradas do diário do seu companheiro; companheiro dessa localizada missão de tirar prazer das partes que nop corpo desde há milénios se especializaram nisso, em produzir prazer. Radislav Gunvaz Vujik: eis o nome do seu companheiro que, debaixo da data de 12 de Setembro, escrevera, de uma forma que só mais tarde se percebera o quão explícita era e, ao mesmo tempo, tão ambígua: GOSTO DE SANGUE, gosto de sangue, gosto de sangue.
4.
A fornicação prossegue, apesar de ninguém a poder ver pois o que vemos são apenas os seus efeitos que nada têm de simbólicos. Eis o globo na mesa, abanando. Oceano Atlântico, o Mediterrâneo, o Pólo Sul, o Pólo Norte, a Rússia, como ela treme, toda a Mongólia treme – nem de transiberiano se vê a Sibéria assim, como se tivesse frio, tremendo. Como fornicam, Radislav Gunvaz Vujik, um homem que, com 18 anos, percebera que gostava de sangue, e essa mulher, uma prostituta que fora encontrada por Vujik numa esquina do centro de Belgrado.
(…)

Contos de Vampiros, coordenação de Pedro Sena-Lino, Porto Editora


Com este conto do vampiro de Belgrado, Gonçalo M. Tavares chupou todo o sangue aos parceiros-contistas que também nos contam histórias, que valem sempre a pena ler (embora a pena seja outra!), em sucessivas páginas com uma cruz impressa a negro no canto superior direito a arredar qualquer possível atentado canino contra o leitor. O imparável M. Tavares deu tudo o que tinha neste pequeno conto, aliás, como já é o seu costume em qualquer narrativa curta (ou longa!) por que se decida. A sua originalidade é realmente invencível.
Deixo uma prova irredutível de que existe, sem querer ferir qualquer um dos outros escritores representados nesta antologia, (e conforme Saramago escreveu no seu Caderno, tão perspicaz!) na Literatura Portuguesa um antes e um depois de Gonçalo M. Tavares. Tão feliz fico por ser sua contemporânea…
É difícil encontrar quem descreva tão bem um momento de “fornicação”, que muitas vezes fere e atrai o leitor em simultâneo pela rudeza descarada das palavras, dos gestos (que os narradores exibem pensando que na literatura tudo cabe, pegando em corriqueiras e nojentas palavras da família do verbo “fo…”, descrevendo gemidos, esgares, corpos em erupção, olhos revirados, centrando a sua atenção naquilo que o leitor já visualizou…) O narrador de M. Tavares é inteligente como o seu autor (não gosto de endeusar ninguém, mas esta é a verdade!)…descreve o acto sexual, descentrando a sua descrição do óbvio, do rotineiro, construindo um ambiente de excitação completamente novo, transferindo todo o orgasmo para os países de um globo que periférica e metonimicamente também explodem de prazer… E é assim, diria, quase diabolicamente, que este escritor concebeu a introdução dos personagens do conto, revelando aos poucos, em repetições que tocam a infantilidade (acho fabuloso este aspecto da narração), as suas identidades, os seus segredos, os espaços privilegiados em que ambos actuam e habitam … enfim, assim, não me canso de pensar, que vale a pena ser leitora



P.S: Vale a pena comprar a revista Máxima do mês de Fevereiro para ler a Crónica Visual que Gonçalo M. Tavares assina. Vi a revista e li a crónica num hipermercado, desconfortavelmente em pé e rodeada de vultos que desfolhavam, vorazes, outras publicações, apercebendo-me de que ele inibe toda a necessidade de vislumbre de beleza naquelas páginas coloridas e cheias de objectos e pessoas ultra-modernes, toda a tentação de achamento da última novidade, apenas com as suas palavras. Com a sua sensibilidade literária. Aquela página, apercebi-me, da crónica de que te falo, destruiu qualquer possibilidade de interesse das restantes páginas da revista. A página da crónica é irredutivelmente poderosa, contém as possibilidades de todas as imagens das restantes tristes folhas consagradas maioritariamente à mode e ao fait-divers. Não comprei a revista nessa tarde de sexta-feira porque estava lá para comprar outras coisas urgentes. Não programei aquele encontro tão rico. Arrependi-me de não comprar a revista. De deixar para trás a Crónica Visual que não consigo encontrar na Net.

Correntes d´escritas 2010



Programa Correntes 2010[1] ">

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Neruda: Cartas de amor inéditas a Matilde Urrutia


Carta manuscrita do poeta



“Todo mi cuerpo está saturado de tí. Eres parte de mí”



[Carta manuscrita en cuatro páginas pequeñas, con membrete del Hôtel D'Angleterre de Roma. La única indicación de fecha que tiene es “Hoy es el sábado 28”. No sabemos de qué mes, pero sí podemos colegir que es de 1952 por la alusión en clave que hace a la primera edición del libro Los versos del capitán, que apareció ese año.]





Hoy es el sábado 28 y he amanecido sin tus pies. Fue así. Me desperté y toqué al fin de la cama una cosa durita que resultó ser la almohada, pero después de muchas ilusiones mías. El hijo de nuestra tía se portó indiferente, me esperaba un auto (del impresor) y marché raudo. Tu hijo será gordo y maravilloso, tendrá 180 páginas. Y tendrá dibujitos en la frente y trasero.[Sin duda se trata de Los versos del capitán, dedicado a Matilde] . Bueno, parece que mi tía no quiere que vuelva a Italia y debes preparar tu viaje, pero con calma, como cuando comemos. Hasta ahora es así. No sé si en el día se cambiarán las cosas. Esta mañana me llevaron a un sitio con una tina blanca, no comprendí al principio, pero me metí, con miedo de disolverme. Había una gran toalla, qué pérdida de trapo, en S. Angelo se hubiera cortado en 12 y hubiera servido hasta junio 1953. Cuando me levanté y abrí a la camarera vi que me faltaba una parte de pyjama que según me dicen se llama pantalón. Es así: [dibujo de un pantalón.] Patoja mía estoy contento, soy como un soldado con su retaguardia segura. No me importa el fuego. No sé si estoy aun con mar o agua de Patoja, todo mi cuerpo está saturado de tí. Eres parte de mí, como la pirinola de su cane, sólo que tengo pirinolas tuyas hasta en el alma. Recién me llaman, esta tarde te escribiré de nuevo, acumularé todo el día besos para todo tu cuerpo que es interminable para mí, aunque la vida me la pasaré besándolo no lo terminaré de besar. Desperté a las 6 ½ a las 8 estaba vestido, son las 9 salgo a los tickets. Hay algo más importante que tu y que yo, somos tu y yo. Juntos somos lo que la pobre gente no alcanza jamás, el cielo en la tierra. Te aprieto a mi corazón, amor mío, con cuerpo, alma y amor.



Tuyo

Tu capitán

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Dino Valls

Insânia
Linda amiga,


conheci este pintor há pouco mais de um mês e fiquei deslumbrada com o modo tão especial como retrata sobretudo a mulher, o espaço, a sexualidade. Agora lembrei-me de que uma vez que estás a ler um romance escrito por um escritor-médico (ou médico-escritor) é a altura ideal para conheceres mais um médico-pintor. Este é espanhol e transporta para as pinturas uma visao vulgarizada da medicina e dos seus objectos. Comove-me a condição mortal do ser humano aqui tão bem retratada. Houve um quadro dele que me fez lembrar a loucura retratada em Jerusalém por Gonçalo M. Tavares. Poderia fazer a capa desse romance tão negro. Deixo-te a página de Dino Valls para te deliciares como eu.


http://www.dinovalls.com/

Slepless Heart

As palavras que transcrevo do Livro de San Michele fizeram-me lembrar outras que em tempos me ofereceste do nosso Pessoa. Gostei do diálogo e aqui o deixo para ti com mais uma música esta do Rodrigo Leão....

-As tuas palavras são superiores à tua idade. Quem tas ensinou?
-Aprendi-as hoje na ilha (ilha de Capri); compreendi esta boa gente, que não sabe ler nem escrever, é bem mais feliz do que eu, que desde criança fatigo os olhos para adquirir sabedoria.

Heart Skipped a Beat na Solidão

Amiguinha, neste post dedico uma das muitas músicas que me deste, e pela qual estou apaixonada de momento, à nossa amizade... acrescento-lhe um poeminha lindo, num dia cinzento de solidão feliz....

A SOLIDÃO ERA ETERNA, Juan Ramón Jiménez

A solidão era eterna
e o silêncio inacabável.
Detive-me com uma árvore
e ouvi falar as árvores.


Nas Nuvens (Up in the air) - Jason Reitman

No cinema está este filme que conta a história de um homem que se habituou a ser livre e a viver feliz entre constantes viagens de avião e paradeiros novos até que conhece uma mulher que abala a sua maneira de estar na vida. A solidão e o desemprego são temas tratados com inovação. O cinema é assim...surpreende-nos.


http://www.youtube.com/watch?v=_m-Da8Tz4_E

SINOPSE
Nas Nuvens

Ryan Bingham (George Clooney) está velho mas talvez ainda vá a tempo de descobrir o sentido da vida enquanto se passeia nas nuvens. No filme Nas Nuvens, Clooney tem uma interpretação que, há quem diga, é merecedora de Óscar, ao dar corpo a Ryan. Este homem sofisticado que adora o seu trabalho - é consultor de outplacement, especializado em despedir funcionários de empresas em dificuldade - exalta a sua filosofia desprendida, tanto de pessoas como de lugares. Mas quando é superado por Natalie (Anna Kendrick) os espaços anónimos e impessoais de aeroportos e quartos de hotel e as relações frias deixam subitamente de ser suficientes para preencher a sua existência... Uma trágico-comédia assinada por Jason Reitman, realizador de Juno e Obrigado por Fumar, recheada de ironia e humor negro.


Em nome da amizade (Reign over me) - Mike Binder


 "Em nome da amizade"é um bom filme em que é marcante o brilhante desempenho do actor americano Adam Sandler. Ele interpreta o papel comovente de um viúvo do atentado de 11 de Setembro que encontra numa amizade antiga, um escape para a sua existência alienada.  

Deixo o trailler do filme:


Adam Sandler, Don Cheadle, Jada Pinkett Smith e Liv Tyler protagonizam esta comovente história sobre Charlie Fineman (Sandler), um homem que ficou alheio à realidade à sua volta desde que perdeu a mulher e as suas filhas.
Mas a vida de Charlie muda para melhor quando encontra por acaso Alan Johnson, um velho colega de faculdade (Cheadle), cuja vida se desenrola entre as exigências da sua carreira profissional e a vida familiar.
A sua renovada amizade reaviva os seus laços há muito deixados para trás, e ambos saem desta nova experiência enriquecidos.

sapo.pt

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Rodrigo Leão em Concerto - "Mãe"

Era uma música redonda, não virava esquinas, não desaparecia de nenhum prisma daquela sala e qualquer espectador tinha a sensação de lhe poder tocar com um dedo. Um dedo apenas, mesmo que fosse muito fino ou muito curto. Qualquer um pensava que ela se dirigia a si. Que o contava num segredo descoberto, ao ritmo da bateria agressiva, ao sopro da voz que ainda faltava no palco.

Essa música tinha uma espessura cuja sonoridade parecia ter vindo da infância ou dum passado que nunca realizei senão em sonho, senão em choro. Era tão forte que o círculo que desenhavam os violinos e o acordeão não era mais do que uma tristeza instintiva, uma tristeza muitas vezes minha, circularmente bem demarcada, lembrando uma carícia de mãe, mas cantada pela voz de outra mulher que não me conhecia e todavia me dizia. E a tua mão percebia e apertava-me.

Vi que por detrás do seu peito, por detrás do vestido negro de seda, se escondia a tal voz com que cantava tudo. E quando os músicos tocavam as notas previsíveis, as notas ensaiadas para que não saíssem para além daquela sala, os seus olhos negros como o vestido abriam-se e deixava de estar só. Tudo o que trazia dentro dos olhos se esbanjava numa emoção que se julgava não estar lá de início, no momento em que entrava cambaleante em desacerto mudo e atravessava o mesmo espaço que todos os olhos da plateia iluminavam. Mas afinal para lá das suas pernas pouco convictas, por dentro das suas pálpebras fechadas, estava lá a dor embrulhada, estava lá o riso e a lembrança enleando tudo o que vivi. Apenas precisava das luzes dos instrumentos certos para cantar por dentro dos ouvidos dos outros com uma voz que se estendia como uma onda muito alta. Como uma onda que nos levasse até à altura das nossas ilusões.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

O livro de San Michele


Por agora rendo-me aos encantos deste livro: O livro de San Michele.
Adquirido sem saber porquê, peguei nele e não consegui deixá-lo de lado! A sinopse deixou-me fascinada e está a valer cada segundo que invisto no livro... Aí vai:


"O Livro de San Michele é, como diz o seu autor, "o livro da vida". Da vida que transforma o mundo, da vida que não descansa, que não se imobiliza nunca, mas que, se acaso apresenta a cada passo novos aspectos, fisionomia nova, nova aparência, é sempre e essencialmente a mesma.
Axel Munthe, que o não ignora, sabe também que só o amor da humanidade, que só o humaníssimo amor do próximo- gente ou bicho, adulto ou criança, pessoa ou animal- nos redimee salva dos inevitáveis egoismos. é um mestre da generosidade, um professor de ternura, uma energia ao sabor da mais límpida, da mais elevada, da mais devotada fraternidade humana. Ele quer os homens sãos e crentes,  a infância pura e alegre, a adolescencia entusiástica e a velhice piedosa e serena.
Chamar a Axel Munthe só um grande escritor, idealista- é pouco porque ele é muito mais ainda: é um raro exemplar de Homem superior, de Homem completo, vencedor sempre das mesquinharias e dos egoísmos da existência.
Lê-lo e meditá-lo é aprender e viver. Nenhum livro como este poderia abrir melhor a "Colecção Dois Mundos" porque em nenhum outro vibra tanto e se afirma tanto a simpatia de alma que aproxima e enleia indivíduos, pátrias, continentes e povos"


 Deixo  ainda alguns dados sobre este curioso sueco...

Axel Martin Fredrik Munthe (Oskarshamn, Suécia, 31 de outubro de 1857 — Estocolmo, 11 de fevereiro de 1949) foi um médico, psiquiatra e escritor sueco. Sua obra mais famosa é The Story of San Michele ("O Livro de San Michele") publicada em 1929. Munthe também foi conhecido por sua natureza filantrópica e por advogar os direitos animais.
Estudou Medicina na Universidade de Uppsala, Montpellier e Paris, doutorando-se no ano de 1880. Embora sua tese tratasse da ginecologia e obstetrícia, Munthe fora fortemente impressionado pelo trabalho pioneiro sobre neurologia do professor Jean-Martin Charcot, chegando a assistir às suas aulas no Hospital Salpêtrière.
Praticou intensamente a medicina em Paris e Roma e, posteriormente, tornou-se médico da Família Real Sueca.

O leopardo ao sol


Amiguinha, tive que deixar um post dedicado a esta mulher! Uma mulher que ficará indubitavelmente ligada à nossa amizade! Apesar de a história ser quase banal, por ser uma de tantas histórias que decorrem num cenário de violência excessiva, a forma como a escritora o faz é sem dúvida inovadora! Tal como te disse, a autora possui a rara capacidade de prender o leitor devido à forma invulgar como narra a história! Vale a pena ler...

(um extracto retirado da Wook)
Premiada e aplaudida por escritores como Gabriel García Márquez e Alvaro Mutis, a escritora colombiana Laura Restrepo foi dada a conhecer ao público português através de «Doce Companhia», uma arrebatadora história de amor que não deixa de denunciar os problemas sociais vividos num país como a Colômbia, obra galardoada com o 'Prémio France Culture' pela melhor obra estrangeira editada em França em 1997 e com o Prémio mexicano 'Sor Juana Inés de la Cruz'. É , portanto, uma autora que dispensa apresentações entre o público português, e sabe, como ninguém, mesclar com uma mestria sublime e incomparável o humor e a crueza, a ficção e a realidade. «O Leopardo ao Sol», espelho do submundo colombiano, o retrato vivo da ficção tornada realidade, foi inspirado na tradição sul-americana e carrega consigo uma forte carga de destruição e morte. No dia em que Nando Barragán assassina, durante um acesso de raiva, provocado pelo álcool, o seu primo Adriano Monsalve, desencadeia uma guerra fraticida, destinada a durar até ao fim dos tempos. Essa guerra será marcada pela lei do deserto: sangue paga-se com sangue. As duas famílias alimentar-se-ão de uma terrível sede de vingança e vão acumulando riquezas através do crime e de negócios obscuros. Nando Barragán e Mani Monsalve são os trágicos protagonistas de uma época ensombrada pela atrocidade da morte que irá mais tarde engolir tudo. «O Leopardo ao Sol» resulta, assim, num livro brutal, intenso e extraordinariamente bem concebido.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

a máquina de fazer espanhóis - valter hugo mãe

"dia 11, 21h30, quinta-feira, no porto, na biblioteca almeida garrett (no palácio de cristal), com apresentação de isabel pires de lima.
será vendida uma tiragem especial, de capa dura, numerada e com um pequeno desenho meu, limitada a 300 exemplares (150 para venda em lisboa e 150 para venda no porto)."

blogue casadeosso


Que tal, "bora aí"?
Deixo um pedacinho da "máquina de fazer espanhóis" (um livro que faz explodir qualquer noite com as suas palavras) para despertar qualquer tipo de inércia que possa servir a recusa deste programa:

"abracei o corpo da minha mulher, segurei-lhe a mão, a sua cabeça no meu ombro, criei um pequeno embalo, como para adormecê-la, ou como se faz a quem chora e queremos confortar. vai ficar tudo bem, vai correr tudo bem. o que era impossível, e o impossível não melhora, não se corrige. estávamos encostados à parede, sob o cortinado, como fazíamos na juventude para os beijos e para as partilhas tolas de enamorados.estávamos escondidos de todos, eu e a minha mulher morta que não me diria mais nada, por mais insistente que fosse o meu desespero, a minha necessidade de respirar através dos seus olhos. "

valter hugo mãe, a máquina de fazer espanhóis, p.27

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

"Muitos" - Em Permanente Poesia

Muitos
     Muitos
           Muitos




Tu não és um és muitos
como aquela árvore
é todas as folhas que mexem
como aquele mar
é todas as ondas que avançam
como aquela casa
é todas as luzes acesas
como esta rua
é todas as vozes que nela palpitam
e todos os carros que a atravessam
em ruídos escuros de uma memória.


abres silêncio ao arredares os lençóis
levando contigo todos os outros
translúcidos de desejo e eu não receio
todas as mãos que trazes
por detrás das costas
fortes, cheias de uma calma morna,
desfeitas num só gesto horizontal
que me invade com a mesma verdade
apesar de seres muitos e afinal só um.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Falling down a mountain - Tindersticks


Só a música permite que nos apresentemos tão ausentes de tudo.

http://www.youtube.com/watch?v=y1jylAx5nhY&feature=related

"Keep you beautiful"- uma música em que canta a beleza ( e posa em fotografias inesquecíveis neste vídeo):
http://www.youtube.com/watch?v=Th81NKBTr6w&feature=related

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Coisas Estúpidas (Carta a Eric Rohmer) - Inês Pedrosa


É estúpido escrever-lhe uma carta que você já não poderá ler. De qualquer modo vivemos num mundo em que já ninguém escreve cartas - as palavras escritas deixaram de ter cor, mão, respiração e compromisso, mesmo as mais íntimas. Despejam-se rapidamente em e-mails que se modificam, apagam e esquecem. É estúpido escrever-lhe uma carta mas aprendi nos seus filmes a amar a força das coisas estúpidas, que aparentemente não servem para nada e só nos atrapalham a vida. Um dos seus filmes de que mais gosto, "Conto de Inverno", narra a história de uma rapariga tão estúpida que se engana no nome da terra onde vive na hora de passar a morada ao grande amor que conheceu nas férias e mora noutro país. Encontramo-la cinco anos mais tarde, trazendo pela mão uma filha nascida desse grande amor e enganando a solidão entre dois amantes. Às tantas, estupidamente, decide ir viver com o mais fruste desses dois amantes, o seu patrão no cabeleireiro. A filha arrasta-a para o interior de uma igreja, porque é quase Natal e a criança quer ver o presépio. Sentada na igreja vazia a rapariga reza em silêncio pelo regresso do seu amor perdido, e o rosto banal ilumina-se-lhe de uma forma inesquecível. Não é católica, tem uma fé vaga, que não aprofunda - não é rapariga de leituras nem de aprofundamentos, desdenha mesmo aqueles que copiam a vida pelos livros, como o amante preterido. Esse amante intelectual dir-lhe-á uma frase belíssima: "Sabes porque te amo? Porque és bela, mas isso não basta. Amo-te porque tenho a impressão de ser capaz de ler o teu coração, e é raro poder-se ler o coração das pessoas". A força dessa rapariga advém da fidelidade absoluta ao seu próprio coração e da confiança que deposita nos sentimentos. Nunca, nem por um segundo, escondeu aos seus amantes que esperaria até ao fim da vida pelo pai da filha - e nunca, o que é ainda mais extraordinário, duvidou da reciprocidade do amor desse homem. Lá onde estivesse, ele seria dela como ela era dele. Nesse momento de revelação no interior da igreja decide deixar o amante que escolhera e viver só com a filha, aguardando o improvável reencontro. Mais tarde dirá que teve "uma premonição". E dirá também: "Não há boas nem más escolhas. É preciso que a questão da escolha não se coloque".







Você soube como ninguém mostrar a inteligência, a verdade, o valor imenso das coisas estúpidas. Há páginas e páginas escritas sobre a sua erudição e argúcia, os clássicos em que se inspirou - e que aliás aparecem delicadamente nos filmes, porque você não era um destes pós-modernos que empinam bibliotecas e as despejam como obras suas para brilhar em sociedade - mas a sua singularidade vinha de outra coisa: da observação apaixonada das escolhas humanas. Das justificações racionais fez capas de seda sob as quais refulge o brilho animal dos sentimentos imediatos. Você dá-nos a ver o modo como as pessoas se agitam através dos seus pequenos mundos pelo pavor de olharem para dentro de si mesmas, como se enganam de propósito por medo da felicidade - ou da liberdade, que é a mesma coisa. Você mostra-nos pessoas tristes que engendram esquemas para tornar os outros felizes.







Por estes dias revi os "Contos das Quatro Estações" recentemente editados em DVD, e tive saudades dos filmes que você já não vai poder fazer. Há cada vez mais gente a bradar pela falta de ética, para poder falhar gloriosamente em todos os valores - excepto o do trabalho, que se tornou o capataz dos novos deuses do sucesso e do dinheiro. Os seus filmes mostram, pelo contrário, que os valores estão nas nossas mãos, e que o mundo se altera, minuto a minuto, através das escolhas que fazemos. Quando decidimos não ter tempo para a tristeza de um amigo, ou sequer para decidir o que mais nos importa na vida, estamos a preferir um valor a outro. As escolhas, por sua vez, dependem de expectativas, e as expectativas dessa palavrinha imensa: fé. "O Signo do Leão", o seu primeiríssimo filme, é a história de um rapaz que passa de milionário a sem-abrigo da noite para o dia. Aquilo que o impede de se suicidar é a convicção de que, pertencendo ao signo astrológico de Leão, a miséria será temporária. Essa fé no signo, que é uma outra forma de fé em si mesmo, salvá-lo-á. Nos seus filmes, Eric Rohmer, as pessoas sabiam salvar-se, a si mesmas e umas às outras. E agora eu não sei como vou viver sem as pessoas dos filmes que você já não vai fazer.
Texto publicado na edição da Única de 23 de Janeiro de 2010




O trailler de Conte d'hiver:

http://www.youtube.com/watch?v=BMIW4GrKsYg