terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A minha irmã é uma embarcação em descoberta

A minha irmã é uma embarcação em descoberta. As suas mãos são brancas e esvoaçam cada vez que fala. Dedos de nuvens vogam sobre a sua voz segura e oscilante. Apontam a rota do sentido absoluto das coisas. Os meus olhos acompanham essa levitação e aí descobrem a explicação do universo. Aí encontram os seus órgãos vitais suspensos lado a lado com os cometas, com as estrelas, com os planetas. E é tudo a mesma pele que brilha nessa escuridade. Nesse buraco fundo chamado medo. É tudo a mesma força transtemporal.
Por dentro da viagem que domina, encontro o instante em que habitei no seu ventre. Não me perguntem como foi isto possível… Sinto-o no espaço da prega rente ao corpo do seu vestido de lã. Num prenúncio do seu umbigo encoberto, que me surge repentinamente, como um ouvido. Acontece-me um umbigo-búzio. É de lá que ouço os meus segredos em maré cheia. Encontro o meu ser primitivamente balbuciante, ainda sob flutuações sem quaisquer palavras. O meu princípio.
Fiz-me da língua frenesi que ela fala. Desse amor que se desprende dos seus lábios, do avesso das suas pálpebras fechadas, vindo de um âmago infinitamente belo, como nunca se viu.

1 comentário:

Anabela disse...

doce amiguinha
que belo presente... que belo hino...
se nada dissesses eu suporia que falavas da tua mae. que elogio... que sorte a da tua irmã. muitos beijos amiguinha
anabela