quinta-feira, 10 de junho de 2010

A VIDA DOS OUTROS - FLORIAN HENCKEL VON DONNERSMARCK

É uma sorte poder ver este filme de Donnersmarck que decorre cinco anos antes da queda do Muro de Berlim, em 1984, sobre a vigilância aterradora a que foram submetidos os habitantes da RDA. Agradeço a referência a este filme a Enrique Vila-Matas que me apressou com as suas impressões a querer ver "A Vida dos Outros".



«Um entre cada cada três cidadãos era «informador não oficial» da Stasi, a agência de segurança do Estado. É um grande filme, com um actor , Ulrich Mühe, simplesmente extraordinário. De uma forma quase imperceptível, a sua personagem, um frio espião da Stasi, dá uma volta radical no dia em que começa a investigar a vida de um dramaturgo e a sua companheira, uma famosa actriz de teatro. O cinzento predomina em todas as sequências. «O cinzento nunca teve muitos partidários, embora alguns deles fossem eminências. Era a cor preferida de Bertold Brecht», disse Florian Henckel von Donnersmarck.
Há um momento em que o dramaturgo espiado procura um livro azul de Brecht que tinha desaparecido do seu escritório e descobrimos que foi roubado pelo espião da Stasi, que o está a ler, ensimesmado no sótão. O espião está a ler no primeiro movimento poético do seu despertar moral e dir-se-ia que , de súbito, descobriu na sua espionagem um meio para aguçar a consciência e estar mais vivo e melhor. (...)
Os métodos da Stasi são-nos mostrados minuciosamente. Vemos as suas escutas, os seus interrogatórios, os seus arquivos, todos esses expedientes que (ao contrário, por certo dos arquivos franquistas) foram abertos há uns anos a todos os atingidos, não sem que isso colocasse certos problemas.
«Houve um grande debate em que muita gente se manifestou contra, porque julgavam que daria lugar a vinganças pessoais, mas enganaram-se. Não houve nenhum problema. As pessoas apenas queriam saber a verdade», comentou Von Donnersmarck.
No seu filme todas as personagens são complexas e contraditórias e escapam ao cliché do bom e do mau a que nos habituaram tantos romances e filmes, e agora os nossos políticos. (...)»
in Diário Volúvel, Enrique Vila-Matas, pp.110, 111

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