domingo, 6 de dezembro de 2009

Dicionário de Gonçalo M. Tavares


Posição – Um texto não deverá ter posições, mas sim esconderijos não detectáveis. A posição é uma visibilidade evidente e um texto literário deverá ter apenas indícios de visibilidades. A única evidência será a sua invisibilidade.Mas claro que a invisibilidade total torna impossível o contacto. Diremos que o que se recomenda são invisibilidades intermédias. Ou: visibilidade intermédia. O que deverá permanecer escondido, sem posição visível? O mais importante. O que deverá ser a parte visível? Aquilo que leve o leitor a fazer mais coisas. O texto que trabalha mais é o texto que faz trabalhar mais.E uma personagem não deverá ter uma posição fixa. Se o tiver não é uma pessoa, mas um objecto. Uma personagem não tem posições, mas in-dis-posições: comportamentos em modificação permanente. Uma indis-posição é um momento que não sabemos como terminará. E uma posição nem sequer é um momento. É um não-momento. Um não-acontecimento. 
Na literatura como na guerra: a posição do texto deverá ser um mistério, algo que requer investigação.

1 comentário:

Anónimo disse...

Minha linda amiga, adorei o metatexto que me ofereces. Está aqui condensada parte da poética Tavariana. Quem me dera acabar o louco trabalho do meu jornal para poder debruçar-me com dedicação total a este e outros textos de crítica literária deste escritor que me apaixona absolutamente. Não há posição intermédia da minha parte.Não há esconderijos. Rendo-me ao visível: acho-o fabuloso! E a ti também. Bjs
P.S: Hoje será, em princípio, a última noite de noitada para sair o jornal.Amanhã regresso à escola, de certeza cheia de frio e tosse!Comento o texto mais recente, com maior dedicação mal acabe esta epopeia! Mas adorei-o e temos que falar dele.
Patrícia