quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Todas as cartas de amor são ridículas...
Até as do próprio Fernando Pessoa...
Deixo-te uma carta de amor do genial Pessoa totalmente reduzida ao mimo que o amor imprime na linguagem até dos seres humanos mais geniais (o amor torna-nos mais parecidos uns com os outros). Vê lá se não achas deliciosas estas palavras que seguem um circuito circular inesgotável (como o próprio amor) e parecem ser escritas propositadamente para ser lidas num sussurro bem juntinho ao ouvido de Ofélia:
Terrivel Bebé:
Gosto de suas cartas, que são meiguinhas, e tambem gosto de si, que é meiguinha também. E é bombom, e é vespa, e é mel, que é das abelhas e não das vespas, e tudo está certo, e o Bebé deve escrever-me sempre, mesmo que não escreva, que é sempre, e eu estou triste, e sou maluco, e ninguém gosta de mim, e também porque é que a havia de gostar, e isso mesmo, e torna tudo ao princípio, e parece-me que ainda lhe telephono hoje, e gostava de lhe dar um beijo na bocca, com exactidão e gulodice e comer-lhe a bocca e comer os beijinhos que tivesse lá escondidos e encostar-me ao seu hombro e escorregar para a ternura dos pombinhos, e pedir-lhe desculpa, e a desculpa ser a fingir, e tornar muitas vezes, e ponto final até recomeçar, e porque é que a Ophelinha de um meliante de um cevado e (...) e eu gostava que a Bebé fôsse uma boneca minha, e eu fazia como uma crença, despia-a, e o papel acabava aqui mesmo, e isto parece impossível de ser escripto por um ente humano, mas é escripto por mim.
Fernando
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