domingo, 19 de dezembro de 2010

NÃO HÁ DOMINGO SEM POESIA

POEMA DA QUANTIDADE

Aqui são excessivas as estrelas.
O homem é excessivo. As gerações
Inúmeras de aves e de insectos,

Do jaguar constelado e da serpente,
De galhos que se tecem e entretecem,
Do café, da areia e das folhas
Oprimem as manhãs e nos prodigam
Seu minucioso labirinto inútil.
Talvez cada formiga que pisamos

Seja única ante Deus, que a define
Para a execução das regulares
Leis que regem Seu curioso mundo.
Não fosse assim, o universo inteiro
Seria um erro e um oneroso caos.
Os espelhos do ébano e da água,
O espelho inventivo de um sonho,
Os liquenes e os peixes, as madréporas,
Tartarugas alinhadas no tempo,
Os vaga-lumes de uma única tarde,
As araucárias e suas dinastias,

As perfiladas letras de um volume
Que a noite não apaga são sem dúvida
Não menos pessoais e enigmática
Que eu, que as confundo. Não me atrevo
A julgar nem a lepra nem Calígula.”

Jorge Luís Borges

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