quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

SE A EUROPA ACORDAR - PETER SLOTERDIJK

Obrigada Paulinha pela tua sabedoria e plena bondade no empréstimo deste livro (nunca vi em ti uma "bondade autoritária", como o disse tão bem, Clarice Lispector). Vale realmente bem a pena ler o que pensa Peter Sloterdijk, este filósofo considerado na actualidade o mais inovador e expressivo pensador alemão. 

«(...)Pouco depois do fim da II Guerra Mundial, circulava no hemisfério ocidental a frase segundo a qual o ser humano seria um ente «condenado à liberdade». O autor do teorema, Jean-Paul Sartre, criara com essa formulação paradoxal a palavra de ordem do existencialismo. Condamné à la liberté: em nenhuma outra expressão se exprimia melhor, numa perspectiva indiscutivelmente neo-europeia, o sofrimento primário ante a nova abertura e o novo vazio do mundo. Naquela altura, o termo heideggeriano «estar-lançado-no-mundo» teve a sua grande hora. De facto, uma liberdade europeia que ficava a dever-se a uma tal libération pendia sobre os sobreviventes como um diagnóstico patológico. Melhor do que os outros, os franceses sabiam forçosamente o que quer dizer estar exposto a uma liberdade que não se conquistou. Condenação pela libertação: a fórmula de Sartre dava uma ideia clara não da sua época mas do humor ferido que a dominava. O imediato pós-guerra encontrou a sua tonalidade de base num sentimento de desenraizamento existencial a que a partir daí se usou chamar absurdo: o absurdo é um estar que se vê instalado num mundo gigantesco e repulsivo, sem missão inspiradora e sem tarefas objectivas. Existir passou a significar: estar privado de essência e trazer no corpo a carência do ser como primeira propriedade. O ser humano surgia pois como parasita do ser - e, por isso, condenado a invejar as coisas e a aspirar à sua substancialidade. (...)»

Peter Sloterdjik, Se a Europa Acordar, p.19

Ainda para mais o autor revela um  gosto exímio na escolha das epígrafes que abrem cada um dos seis capítulos do livro que até dá vontade de ir buscar todos os  livros a que foi recolhê-las para integrar aquelas frases soltas nos seus habitats naturais e verificar se permanecem as mesmas.
Transcrevo apenas a que abre o capítulo 2 ao qual pertence o excerto deste post:

« a mesma gente simpática a mesma falta de valor.»
George B. Shaw
On Heartbreak, 1920  

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