terça-feira, 21 de setembro de 2010

PAPEIS INESPERADOS - JULIO CORTÁZAR

O prometido é devido por isso transcrevo alguns excertos do texto de Cortázar de que te falei. Aqueles em que os meus olhos pararam, contentes de alguém dizer o que eu queria ouvir ou, neste caso, ler :

ESSÊNCIA E MISSÃO DO PROFESSOR
« (...)
Ser professor significa estar na posse dos meios conducentes à transmissão de uma civilização e de uma cultura; significa construir no espírito e na inteligência (...) o panorama cultural necessário para capacitar o seu ser no nível social contemporâneo e, simultaneamente, estimular tudo o que há de belo, de bom, de aspiração à total realização (...). Dupla tarefa, portanto: a de instruir, educar e a de dar asas aos anseios que existem, embrionários, em toda a consciência nascente. O professor estende-se para a inteligência, para o espírito e, finalmente, para a essência moral que repousa no ser humano. (...) deve ainda assim cumprir a profunda viagem para o interior desse espírito e dele regressar, trazendo, para maravilha dos olhos do seu educando, a noção de bondade e a noção de beleza: ética e estética , elementos essenciais na condição humana.
Nada disto é fácil. (...) O homem é inteligência mas também é sentimento, e anseio metafísico, e sentido religioso. O homem é um composto; da harmonia das suas possibilidades surge a perfeição. Por isso ser culto significa atender ao mesmo tempo a todos os valores e não meramente aos intelectuais. Ser culto é saber sânscrito, se quiserem, mas também maravilhar-se diante de um crepúsculo; ser culto é encher fichas acerca de uma disciplina que se cultiva com preferência, mas também é emocionar-se com uma música ou um quadro, ou descobrir o íntimo segredo de um verso ou de uma criança. Talvez se percebesse melhor o meu pensamento decantado neste conceito de cultura: a atitude integralmente humana, sem mutilações, que resulta de um longo estudo e de  uma ampla visão da realidade.
Assim tem de ser o professor. (...)»


Mais informações sobre este livro póstumo na livraria Pó dos Livros (cuidado com o pó ao abrir o endereço, não vás espirrar sem contar...):

http://livrariapodoslivros.blogspot.com/2010/07/papeis-inesperados.html

2 comentários:

Anabela disse...

Minha amiga

Este pequeno trecho deixou-me perplexa! Que belo perfil o de um professor... afinal parece tão simples... Adorei a forma como o Cortazar descreve o professor: simultaneamente de uma forma mágica, simples... é isso... muito simples porque um professor deve deixar-se contagiar pelas emoções e pelas coisas simples da vida! A dita arte do maravilhamento que falavam os socráticos!!!!
Mas que compelxidade, afinal, pois esta tarefa, tão simples, é constnatemente relegada para segundo plano... e por isso esta reflexão fez-me lembrar um texto poem,a que colequei na semana passada aqui no blog, do Nuno Júdice:"Nunca são as coisas mais simples que aparecem quando as esperamos.".... Perdidos em procurar o inalcansável, nem nos damos conta de que as coisas mais simples afinal sõa bem mais fáceis de conquistar.... e estão mesmo ao nosso lado!!!!
Muitos beijos e obrigada pelo texto que me deixou a pensar... muito ... na vida... e na forma disparatada como achamos que é viver!!!

Anabela disse...

amiga...continuo perdida nas palavras de Cortazar... esta dualidade, esta mistura da razão com a emoção.... e como gosto cada vez mais do Espinosa! Afinal um professor é um manto de amor que cobre tudo e todos! Que visão magnífica!
adoro-te amiga, por me arrancares tantos pensamentos... por me pores a pensar...
beijos