sábado, 4 de dezembro de 2010

ÚLTIMA CIÊNCIA - HERBERTO HELDER

A solidão de uma palavra. Uma colina quando a
[ espuma
salta contra o mês de maio
escrito. A mão que o escreve agora.
Até cada coisa mergulhar no seu baptismo.
Até que essa palavra se transmude em nome
e pouse, pelo sopro, no centro
de como corres cheio de luz selvagem,
como se levasses uma faixa de água
entre
o coração e o umbigo.

*
Ninguém sabe se o vento arrasta a lua ou se a lua

arranca um vento às escuras.
As salas contemplam a noite com uma atenção
[ extasiada.
Fazemos álgebra, música, astronomia,
um mapa
intuitivo do mundo. O sobressalto,
a agonia, às vezes um monstruoso júbilo,
desencadeiam
abruptamente o ritmo.
— Um dedo toca nas têmporas, mergulha tão
[ fundo
que todo o sangue do corpo vem à boca
numa palavra.
E o vento dessa palavra é uma expansão da
[ terra.

Herberto Helder, Última Ciência

1 comentário:

Anabela disse...

Amiguinha
O poema soube-me a ciência... como se fosse um poema científico!!!! Será possível?
Obrigada amiga, pela amálgama deliciosa que o nosso H. Helder conseguiu criar ...

Beijos
Anabela

PS: o H. Helder ficará sempre em mim com o poema dos cavalos que correm, lembras-te? beijinhos