Se tivesse de recomeçar a vida, recomeçava-a com os mesmos erros e paixões. Não me arrependo, nunca me arrependi. Perdia outras tantas horas diante do que é eterno, embebido ainda neste sonho puído. Não me habituo: não posso ver uma árvore sem espanto, e acabo desconhecendo a vida e titubeando como comecei a vida. Ignoro tudo, acho tudo esplêndido, até as coisas vulgares: extraio ternura de uma pedra. Não sei nem me importo se creio na imortalidade da alma, mas do fundo do meu ser agradeo a DEus ter-me deixado assistir um momento a este espectáculo desabalado da vda. Isso me basta. Isso me enche: (...)
A que se reduz afinal a vida? A um momento de ternura e mais nada...(...) Lá está a velha casa abandonada e as árvores que minha mãe, por sua mão, dispôs: a bica deita a mesma água indierente, o mesmo barco arcaico sobe o rio guiado à espadela pelo mesmo homem do Douro, de pé sobre a gaiola de pinheiro. Só os mortos não voltam. Dava tudo no mundo para os tornar a ver, e não há lágrimas no mundo que os façam ressuscitar.
2 comentários:
Ao ler esse excerto senti aquele aperto no estômago, o nó na garganta, as lágrimas quase a brotar. Não sei porquê, mas sei que me tocou, talvez pelo conjunto das notas musicais a tocar as letras ao de leve, ou simplesmente sou eu que ando mais sensível :)
bjk,
Caridee
A verdadeira literatura tem a capacidade de nos atravessar a alma de forma desconcertante. São estes textos que nos transformam que valem a pena ler. Bjinho e, levantemos a cabeça em direcção à muita alegria da vida, para lá do texto (não fiques prisioneira dele!). Sei que não!
Patrícia
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