domingo, 31 de outubro de 2010


Maggie Taylor

Neste domingo é apoucar-me ouvir apenas a chuva a bater
mas é tarde demais para ter o mar na minha mão fechado
eu que sempre o tive ao dispor de uma janela que entreabro
sempre tão perto de mim que sinto os peixes a passar na rua
ouço: abanam as escamas, a cauda e sobem escorregadios
os muros do meu quarto ao encontro desta luz de cabeceira
dos meus olhos chamantes dos ouvidos à espera da maré
sei que recua e aos solavancos vem de novo e diz-me adeus
recolhe toda a maresia enquanto adormeço e a minha mãe
como uma espuma chega e fecha a porta a persiana o livro
ajeita a cama as dobras dos lençois encharcadas da chuva
e do mar da maresia da poesia do outono frio de vozes da rua
diz baixinho boa noite e leva aquele peixe que escondi debaixo
do travesseiro para guardar do mar uma qualquer coisa aguada.
por isso insisto: é apoucar-me hoje, domingo, ouvir a chuva bater.






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3 comentários:

Caridee disse...

e depois uma pessoa acorda cedíssimo, decide vir ver as novidades e vê um texto belíssimo como este. Por momentos quase que também senti o mar e os peixes e o cheiro a maresia.
todos os dias me faz ver o quão especial e única é e eu somente tenho de dizer obrigada por a ter conhecido.
mts bjinhos e um bom feriado (já que eu preferia estar na escola a ter ingles e português, mas pronto)

Caridee

Anónimo disse...

Querida Caridee,
obrigada pelas tuas palavras tão meigas. Tu também és especial porque entre tantas outras coisas compreendes tão bem a minha necessidade de poesia. Estou doente (com febre) por isso o médico decretou-me pelo menos dois dias em casa (hoje e amanhã). Como Juan José Millás disse em "O Mundo", um dos livros que mais alegria me deu nestes últimos anos, a febre como o estado em que se entra quando se escreve, é uma nova maneira de ver o mundo. E é bem verdade. No entanto prefiro essa outra dimensão do escrever, da espessura do mundo poético quando se entra a 100% nele, sem réstia do mundo que lhe é paralelo. Espero melhoras. Bjinhos para ti, querida aluna.

Patrícia

Anabela disse...

Doçurinha linda

Adorei o teu poema tão lindo repleto de cheiros e sons do mar!
Adorei ouvi-lo a partir da tua voz linda, deslumbrante, ainda que trémula da doença! Mas lindo!!!!!!
Adorei a imagem que colocaste para embelezar o teu poema!
Querida amiga, adoro-te por seres minha amiga e por me dares tanto!!!! Por me dares TU própria!
Beijinhos!!!