terça-feira, 2 de março de 2010

Ondjaki e ynari: a menina das cinco tranças



Era uma vez uma menina que tinha cinco tranças lindas e se chamava Ynari. Ela gostava muito de passear perto da sua aldeia, ver o campo, ouvir os passarinhos, e sentar-se junto à margem do rio.
Certa tarde, já o Sol se punha, Ynari ouviu um barulho. Não eram os peixes a saltar na água, não era o cágado que às vezes lhe fazia companhia, nem era um passarinho verde. Do capim alto saiu um homem muito pequenino com um sorriso muito grande. E embora ele não fosse do tamanho dos homens da aldeia de Ynari, ela não se assustou.
O homem muito pequenino andava devagarinho e devagarinho se aproximou.
– Olá! – cumprimentou.
– Olá – respondeu Ynari, receando que estivesse a falar alto de mais para o tamanho do ouvido do homem muito pequenino. – Desculpa, mas não sei o teu nome...
– Eu também não sei o meu nome... – desculpou-se o homem muito pequenino. – Mas chamam-me homem pequenino.
– Ah, está bem... – sorriu Ynari, enquanto se deitava na relva para ficar mais perto dele.
– Eu tenho um nome só, quer dizer, uma só palavra: chamo-me Ynari.
– Ynari é um nome muito bonito – o homem pequenino sentou-se, ficando, assim, ainda mais pequeno.
– Posso fazer uma pergunta, homem muito pequenino?
– Podes fazer muitas perguntas.
– De onde vens?
– Venho da minha aldeia, que fica mais para cima, junto à nascente do rio.
– E lá, na tua aldeia, são todos pequeninos?
– Sim, somos todos mais pequenos que vocês, quer dizer, depende daquilo que entendemos por «pequeno». Não achas?
– Nunca tinha pensado nisso. Sempre pensei que uma coisa menor fosse uma coisa pequena...
– Pode não ser assim... Conheces a palavra «coração»?
– Conheço! – sorriu Ynari. – E não é só uma palavra, é isto que bate dentro de nós – e mostrou no seu peito onde o coração batia.
– Claro, e... O coração é pequeno para ti?
– É... e não é! Cabe tanta coisa lá dentro, o amor, os nossos amigos, a nossa família...
– Vês? – disse o homem mais pequeno que ela. – Às vezes uma coisa pequenina pode ser tão grande...
Os dois ficaram por um tempo calados, olhando o Sol que, do outro lado do rio, quase já tinha desaparecido. Assim, tão amarelada que estava a tarde, parecia que o Sol se ia afogar no rio e que os peixes, saltando, se queimavam nos seus raios avermelhados. Estiveram algum tempo assim, até que Ynari começou a brincar com as suas tranças: eram cinco tranças lindas, negras, compridas.
A menina tinha olhos enormes que brilhavam muito e lábios carnudos muito bonitos.
– E tu, de onde vens? – perguntou o homem mais pequeno que Ynari.
– Eu venho daquela aldeia ali – apontou a menina na direcção das cubatas. – Vivo ali com a minha mãe, o meu pai, a minha avó e o meu povo.
– E quem te faz as tranças?
– Ninguém me faz estas tranças, porque elas não se desfazem... A minha avó diz que eu já nasci com as tranças e que um dia vou saber porquê. Eu gosto muito de brincar com as minhas tranças.
Levantaram-se, os dois, e caminharam junto ao rio. Agora o homem mais pequenino que Ynari já não lhe parecia tão pequenino, nem era estranho caminhar ao seu lado, embora ele fosse muito mais baixo do que a menina. De vez em quando, Ynari afastava os capins mais altos para que o homem mais pequeno pudesse caminhar livremente.
– Não tens medo dos bichos? – ela perguntou.
- Não. Os bichos não fazem mal nenhum... E mesmo a palavra «medo» pode ser vivida de várias maneiras.
– Mas quando estás perto de uma palanca negra gigante, tens medo, ou não?
– Sabes, Ynari, nunca estive muito perto de uma palanca negra gigante embora já a tenha visto muitas vezes. E tu?
– Eu só a vejo de longe.
– A palanca negra gigante correu até perto de ti, fez-te mal?
– Não, nunca.
– Vês... Não precisas de usar a palavra «medo».
– Também acho... – disse Ynari, dando a mão ao homem simplesmente

3 comentários:

Anónimo disse...

Adorei o excerto de Ynari. Compreendo por que razão se diz muitas vezes que "temos uma criança dentro de nós até sermos velhinhos" ...gosto tanto de alguns livros de literatura infantil que só pode ser ela, com duas tranças bem compridas e a balançarem, que sente por mim. Adorei!Bjs
Patrícia

Anónimo disse...

Olá!

Gostei muito desta história e recomendo-a a todas as pessoas.
Não percam tempo.
Lêem já este livro!

beijinhos

Anónimo disse...

Boa tarde!

Esta é uma obra infantil. É muito criatica, intressante e bem elaborada.
Todas as pessoas que gostam de aprofundar os seus conhecimentos e entrar em novas aventuras, esta é a obra recomendada.

Não percam tempo e começa já hoje em ler este livro.
Boa leitura!

Catarina