sexta-feira, 8 de outubro de 2010

À VOLTA DA EPIGRAFE

Não posso deixar de transcrever a epígrafe tão rica e polissémica de "A Tia Júlia e o Escrevedor"de Mario Vargas LLosa que tanto me ocupa a imaginação, sentindo-me tonta como se tivesse acabado de andar num carrossel, em grandes círculos que incluem mais pequenos movimentos circulares, cada vez que a leio. Está aqui explícita a ideia que o autor teve relativamente à experiência da escrita dentro da escrita e da memória de quem escreve e se lê na própria escrita,  de que se alimenta a personagem e o autor, ele próprio.


«Escrevo. Escrevo que escrevo. Mentalmente, vejo-me a escrever que escrevo e também posso ver-me a escrever que escrevo. Recordo-me já escrevendo e, também, vendo-me que escrevia. E vejo-me recordando que me vejo a escrever e recordo-me vendo-me recordar que escrevia e escrevo vendo-me escrever que recordo ter-me visto escrever que me via a escrever, que recordava ter-me visto a escrever que escrevia, que escrevo que escrevia. Também posso imaginar-me escrevendo que já tinha escrito que me imaginaria escrevendo que tinha escrito que me imaginava escrevendo que me vejo a escrever que escrevo.”

El Grafógrafo de Salvador Elizondo

2 comentários:

Anónimo disse...

Sem dúvida que ler apenas uma vez esta epígrafe não basta, mas sim lê-la no mínimo duas ou tres vezes porque à primeira parece que os nossos pensamentos fogem de nós e uma pessoa fica completamente boqueaberta a olhar as palavras e os sons que a sua leitura nos faz dizer.
Palavra a palavra, letra a letra, minuto a minuto lá consegui entender a ideia que o autor transmite neste emaranhado do verbo escrever.
Adorei
bjinho
Caridee

Leitoras SOS disse...

Adorei que adorasses e lesses muitas vezes como se as palavras estivessem lá para olharmos sempre para elas, para de forma cada vez mais íntima lhes roubassemos um sentido que é só delas. bjinhos

Patrícia