sábado, 20 de novembro de 2010

LOUCURA E QUOTIDIANO - JEAN DE LA FONTAINE, GEORG BÜCHNER, ANTON TCHÉKHOV, LUIGI PIRANDELLO

Uma loucura de livro, da colecção Padrões Literários, este que li e me fez entender melhor a Loucura na Literatura. Deixo o texto integral de La Fontaine que abre a colectânea e um excerto de Lenz, de Georg Bücnner:

«No amor tudo é mistério: as suas setas e a sua bolsa, a sua chama e a sua infância eterna.

Mas por que é cego o amor?
Aconteceu que num certo dia o Amor e a Loucura brincavam juntos. Nessa altura o Amor ainda não era cego.
Entre eles emergiu um desentendimento qualquer.
Solicitou então o Amor que se reunisse o conselho dos deuses, para tratarem desse assunto.
Mas a loucura, na sua impaciência, deu-lhe uma pancada com tal violência que lhe privou da visão.
Vénus, mãe e mulher, pôs-se a clamar por vingança aos gritos.
E diante de Júpiter, Némesis – a deusa da vingança – e de todos os juízes do Inferno, Vénus exigiu que aquele crime fosse reparado. O seu filho não podia ficar cego.
Depois de estudar com bastante detalhe o caso, a sentença do supremo tribunal celeste consistiu em condenar a Loucura a servir de guia ao Amor.»
Jean de la Fontaine

«Ao anoitecer, chegou ao cimo da montanha, ao planalto nevado de onde se desce, do lado oeste, para a planície. Sentou-se. Tudo, com a noite, se tornara mais calmo, as nuvens firmes e imóveis no céu. Tão longe quanto a vista alcançava, nada senão cumes de onde desciam largos declives. E tudo tão tranquilo, cinzento, crepuscular. Sentiu-se assustadoramente só; estava só, absolutamente só. Queria falar consigo mesmo, mas não o conseguia. Mal ousava respirar; ao andar, mesmo com cautela, os seus passos ressoavam como trovões. Devia sentar-se. Uma angústia indizível assaltou-o, no meio deste nada gigantesco: encontrava-se no vazio! De um salto levantou-se e desceu a correr encosta abaixo.
Chegara a escuridão, a terra e o céu confundiam-se numa só coisa. Tinha a sensação de que algo o perseguia, que essa coisa terrível o ia atingir e que os homens não podem suportar: como se a loucura, montada nos seus cavalos, o perseguisse.»
Georg Büchner

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