quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Os livros também morrem. São, então, pássaros de asas abertas que voam na escuridão, ininterruptamente, na aflição de serem uma última vez olhados pela paixão dos seus leitores, únicos que os sabem reconhecer, que os podem salvar, mesmo que em queda abrupta se percam algumas palavras virtuosas para sempre.

2 comentários:

Caridee disse...

Acho que nada chega a morrer desde que tenha alma, e os livros teem-na. Podem perder-se nas prateleiras poeirentas de muitas casas, mas não se perdem nunca naqueles que de facto os amaram, os sentiram e por eles foram marcadas. São sem dúvida como pássaros de asas abertas, mas não me parece que voem na escuridão mas sim na luz, na luz da procura e esperança de um novo leitor, na procura de mais uma viagem intusiasmante e nova, porque nunca um livro se lê duas vezes da mesma maneira.
Também me parece que eles se salvem sem ajuda do outros, simplesmente a sua força lhes permite protegerem-se das viagens desgastantes do tempo.

parece que pela primeira vez discordo de si :)

Leitoras SOS disse...

Tudo aquilo (ou até mesmo todos aqueles) para quem não olho, sobre os quais nunca penso ou deixo de pensar são, para mim, como mortos... Até mesmo os livros. Há livros na minha estante, nas bibliotecas, nas montras das livrarias, nos seus escaparates, que esperam apenas um ínfimo olhar para se tornarem nossos, para existirem de facto. Um livro morre quando nunca o lemos, mesmo que o acariciemos e o tratemos bem na nossa prateleira, ou o encostemos como se existisse a outro, já lido e pensado. Mesmo com a luz a incidir nele, permanece às escuras. Neste pequeno texto dei vida aos livros mesmo para além dessa morte (provocada neles por nós, os seus "desleitores").Mesmo quando não os lemos ou não nos recordemos mais deles (alguns livros mesmo lidos do princípio ao fim, caem no esquecimento, como as pessoas que se cruzam connosco!), esses persistem em voar diante da nossa cega indiferença como se voassem num pedido de leitura, de reconhecimento de si próprios como artefactos mas como ideia de alguém, desse alguém que os escreveu para serem lidos e remexidos. Ai deles se nunca mais os vemos, pois acabam por morrer mesmo existindo dentro da capa, que depressa deixa de parecer um par de asas e lembra um verdadeiro caixão.
Caridee, a linguagem metafórica tem destas coisas, aponta para fora do c´´irculo perfeito que queremos desenhar com as palavras.
Como vês, a tua discordância é de papel, não é fogo...Bjinho

Patrícia