domingo, 28 de novembro de 2010

JOSÉ SARAMAGO NAS SUAS PALAVRAS - FERNANDO GOMES AGUILERA

Ter este livro em mãos é segurar em palavras que pela sua transparência parecem não existir, mesmo a dizerem tudo. É esta a sensação (até certo ponto desconfortável) que tenho. Palavras que não podem ser ditas com outras palavras. Serão, para mim, as palavras das palavras. Deixo apenas algumas delas.

«Se é verdade que não somos mais que contos ambulantes, contos feitos de contos, e que vamos pelo mundo contando o conto que somos e os contos que aprendemos, parece-me igualmente claro que  nunca poderemos chegar a ser mais do que isso, esses seres feitos de palavras, herdeiros de palavras, que vão deixando, ao longo ods tempos e do tempo, um testamento de palavras, o que têm e o que são. Tudo.

«Nunca seremos mais que seres feitos de palavras, crê José Saramago», canárias 7, Las Palmas, Canárias, 30 de Novembro de 1994

Há uma personagem [a rapariga dos óculos escuros] no meu livro[Ensaio sobre a Cegueira] que pronuncia as palavras-chave: «Dentro de nós há uma coisa que não tem nome. É isso que somos.» O que precisamos é procurar dar um nome a essa coisa: talvez, simplesmente, lhe possamos chamar «humanidade».

As palavras ocultam a incapacidade de sentir», ABC (Suplemento ABC Literário), Madrid, 9 de Agosto de 1996 [Entrevista de Juan Manuel de Prada]

«Creio, e não estou nada a ser original, achar excelente não ser possível catalogar os livros consoante os géneros a que supostamente devam pertencer. É como se entre os géneros não houvesse fronteiras tão rígidas como as que separam as razões. Olhamos o mapa e vêmo-lo dividido em riscos ou cores. É muito bom que hoje seja difícil catalogar os géneros. Se cada um puder aproveitar a riqueza dos outros, acho óptimo. Não sei se daqui a uns anos, não poderemos fundir todos os géneros para depois os tornarmos a dividir, um fenómeno de concentração e de expansão semelhante ao que existe nas galáxias. este momento, creio que cada um dos géneros literários se expande em relação a todos os outros. Às vezes dizem-me: «Você devia fazer poesia» e eu respondo: «Procurem-na nas páginas dos meus romances.»

«Sou a pessoa mais banal deste mundo», NT, Lisboa, 23 de Maio de 1984 [Entrevista de Alexandre Correia]

«A Literatura é o resultado de um diálogo de alguém consigo mesmo.»

«Saramago admite que escrever o seu novo livro não foi nada fácil», Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1 de Novembro de 2008 [Entrevista de Bolívar Torres]


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