O tema do post de 17 de Agosto, inteligentemente colocado pela minha amiga, merece uma atenção redobrada da minha parte. Por que li ontem, ou melhor, devorei, o livro que me foi emprestado pela minha amiguinha (que continua algures vagueando por um Cosmos que desconheço!), decido colocar este post também como forma de agradecimento pelas leituras que a Patrícia me vai proporcionando! São sempre viagens únicas e inesquecíveis.
Começo por dizer que do Gonçalo M. Tavares li apenas “Jerusalém” e que gostei tanto, tanto que ao terminar a obra recomecei-a de novo. Também leio alguns apontamentos seus no “Jornal de Letras, Artes e Ideias”, confessando a minha dificuldade em interpretar alguns dos seus escritos.
Ontem consegui ter uns momentos vagos, depois de dias de grande agitação e elevada tempestuosidade, e não resistindo a tanto livro que a Patrícia me emprestou e nomeadamente a este autor (sobre o qual subscrevo todos os elogios que a minha amiga lhe dedicou), vagueio pelos interstícios dos pensamentos do Sr Juarroz. Antes de me debruçar no livro, quero confessar que a imaginação de Gonçalo M. Tavares é de facto surpreendente. Criar um bairro com tantas personagens interessantes é de facto genial. Faço apenas um reparo, chamem-me femininista se quiserem, mas fiquei visivelmente incomodada ao notar que nesse bairro apenas coabitam duas mulheres: a Sra Bausch e a Sra Woolf! Porquê, Sr M. Tavares? Para além disso, qual o critério usado na escolha destes moradores, Sr M. Tavares? Estaremos perante uma bibioteca como a do Sr Juarroz? Será que o caos compreende afinal uma ordem?
Começo por dizer que do Gonçalo M. Tavares li apenas “Jerusalém” e que gostei tanto, tanto que ao terminar a obra recomecei-a de novo. Também leio alguns apontamentos seus no “Jornal de Letras, Artes e Ideias”, confessando a minha dificuldade em interpretar alguns dos seus escritos.
Ontem consegui ter uns momentos vagos, depois de dias de grande agitação e elevada tempestuosidade, e não resistindo a tanto livro que a Patrícia me emprestou e nomeadamente a este autor (sobre o qual subscrevo todos os elogios que a minha amiga lhe dedicou), vagueio pelos interstícios dos pensamentos do Sr Juarroz. Antes de me debruçar no livro, quero confessar que a imaginação de Gonçalo M. Tavares é de facto surpreendente. Criar um bairro com tantas personagens interessantes é de facto genial. Faço apenas um reparo, chamem-me femininista se quiserem, mas fiquei visivelmente incomodada ao notar que nesse bairro apenas coabitam duas mulheres: a Sra Bausch e a Sra Woolf! Porquê, Sr M. Tavares? Para além disso, qual o critério usado na escolha destes moradores, Sr M. Tavares? Estaremos perante uma bibioteca como a do Sr Juarroz? Será que o caos compreende afinal uma ordem?
Quanto ao livro, se tivesse que indicar o seu tema diria que versa as reflexões filosóficas de um habitante priviligiado desse bairo: o Sr Juarroz. Embora todos os textos mereçam uma reflexão aprofundada, deter-me-ei apenas em alguns que me perturbaram deveras.
Fiquei logo refém deste livro ao ler O ABORRECIMENTO, a primeira reflexão deste senhor pois é sobre o pensamento que se debruça. Aliás, este é um dos textos do livro que mais me impressionou. E começa assim:
"Como a realidade era para o Sr Juarroz uma matéria aborrecida ele só deixava de pensar quando era mesmo imprescindível"
Na verdade dou por mim, muitas vezes, a submeter-me a esta ausência do EU físico pois partilho da reflexão do Sr Juarroz: a realidade é uma matéria aborrecida e que conseguimos evitar viajando com o pensamento. Fugir da realidade pelo pensamento é uma viagem magnífica. Lindo!
A QUEDA, é um texto que poderei aproveitar na s minhas aulas de física pois trata de conceitos como: a posiçãp, a mudança de posição, o deslocamento, a direcção de um movimento. É um texto bem conseguido pois mostra-nos que cair do alto de 100 m e percorrer 100 metrosno jardim são no fundo a mesma acção apenas a diferença na direcção do movimento. Daí a necessidade de chamarmos a Sra Matemática para nos dar uma ajudinha: o uso de setas (os matemáticos vão-me crucificar pois deveria ter dito: segmento de recta orientado!) a que apelidamos de vectores é de extrema utilidade para que possamos distinguir os dois movimentos, caso contrário são movimentos que aparentemente são idênticos. Deixando a ciência física e passando para o plano filosófico, a reflexão do Sr Juarroz fez-me acreditar uma vez mais que chegar a um determinado ponto pode ser feito de diversos modos mas o resultado final é rigorosamente o mesmo (voltando à física, distinguimos por isso mesmo um certo tipo de variáveis a que damos o nome de funções de estado, ou seja, são independentes do percurso considerado). Na nossa vida, alcançar um determinado objectivo pode ser feito de variadíssimas formas, pode envolver mais ou menos esforço, mas o resultado final é igual! Sublime! Como gosto do Sr M Tavares na pele de Sr Juarroz!
A AUSÊNCIA DE PROVAS FÍSICAS, é um texto extraordinário e com tanto sumo....
"Como era deselegante não ver nada com tantas coisas para serem vistas, o senhor Juarroz ficava em casa, à janela, a ver as coisas do mundo"
"O senhor Juarroz pensava muitas vezes que o mundo seria mais físico se as coisas vistas ou ouvidas também deixassem no fim, uma chávena de café vazia, de modo a provar à mulher que não perdia tempo, como ela o acusava. Mas depois de pensar nada se alterou, pois os pensamentos também não deixavam provas. Apenas o café, apenas o café- murmurava".
Pergunta ingénua: como se consegue provar que houve efectivamente pensamento? Como se vê o rasto do acto de pensar?
A ÁGUA A FERVER,
(...a continuar brevemente)
1 comentário:
Querida Ana Bela,
fico orgulhosa por saber que gostaste tanto do Sr. Juarroz como eu. Fiquei frustrada por nunca te ter lido os teus textos preferidos, pois era inevitável que te perturbassem, tendo tu tanta paixão pela Física.
Quanto às questões que levantas, acho que dentro do aparente caos em que surgem os nomes dos diversos senhores vizinhos, existe realmente uma ordem que escapa a qualquer demonstração. Na minha opinião M. Tavares seleccionou um leque de nomes que o marcaram definitivamente como ser humano e escritor e passou a dispô-los em grupos vizinhos, seguindo os momentos da vida em que os leu ou em que eles o marcaram (será?!; assim o entendo).Como muitos dos Senhores são ainda meros projectos, fortes desejos de M. Tavares, poderão até estar distribuídos segundo a sua intenção de se debruçar a seu tempo, de uma forma séria, aprofundada, sobre as suas obras, sobre esses autores que (mesmo conhecendo apenas um pouco) o fascinam. Vejo o bairro como um plano de acções (de leitura e de escrita), não sei bem porquê. Uma espécie de grelha -plano anual de actividades- dos professores.
Confesso também a minha pena por ver representadas só 2 mulheres (Virginia Wolf e Pina Bausch) mas creio que ele é bastante hermético (e mesmo maniento, como o faz na escolha de temas para a escrita literária) nas suas escolhas e são fundamentalmente estes pensadores e não outros (que poderiam abarcar mulheres)que ele pretende dar à luz neste bairro que foi, é e constituirá para sempre o seu universo cultural.Acrescentaria as Sras. Beauvoir, Callas,Bessa-Luís, Lessing, Khalo, Péron, Monroe, Curie, ... (abriria novas áreas do conhecimento). Quanto à prova do pensamento, não é fácil se não usarmos palavras ou sinais equivalentes - a voz ou o registo escrito como provas finais daquilo que somos.
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