Luís Pignatelli (pseudónimo literário de Luís Oliveira de Andrade) nasceu em Espinho a 1 de Janeiro de 1935 e morreu em Lisboa a 20 de Dezembro de 1993. Em Espinho fez a instrução primária e frequentou o liceu. Nas lides da escrita, estreia-se em Maio de 1953 na revista Bandarra, com o poema Aguarela (assinado por Luís de Andrade e não ainda Pignatelli). Nesta revista, publicada no Porto, em 3 séries, entre 1953 e 1964, continuará a colaborar até à sua ida e fixação de residência em Coimbra, nos meados da década de 50, onde, de passagem, na revista Vértice, assina alguns poemas. Deste tempo de Coimbra data a amizade com José Afonso, através do qual alarga o seu leque de amizades a Herberto Hélder, Adriano Correia de Oliveira, António Quadros, Manuel Alegre, entre outros. Em 1963 passa alguns meses em Moçambique, onde trabalha como jornalista, na Tribuna de Lourenço Marques. De regresso a Portugal, volta para Coimbra, mudando-se definitivamente para Lisboa no verão de 1965. Aí frequenta tertúlias, colabora nos suplementos literários de vários jornais (por vezes sob o pseudónimo de Athayde de Andrade), traduz, aparece representado em algumas antologias (por exemplo, na Antologia da Poesia Concreta em Portugal, de E. M. Melo e Castro e José-Alberto Marques) Em 1973, no Círculo de Poesia, da Moraes Editores, publica o seu único livro, Galáxias.
Transcrevo dois poemas de Paz:
CERTEZA
Se é real a luz branca
Desta lâmpada, real
a mão que escreve, são reais
os olhos que olham o escrito?
Duma palavra à outra
o que digo desvanece-se.
Sei que estou vivo
entre dois parênteses.
TEUS OLHOS
Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima,
silêncio que fala,
tempestades sem vento, mar sem ondas,
pássaros presos, douradas feras adormecidas,
topázios ímpios como a verdade,
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
duma árvore e são pássaros e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra constelada de olhos,
cesta de frutos de fogo,
mentira que alimenta,
espelhos deste mundo, portas do além,
pulsação tranquila do mar ao meio-dia,
universo que estremece,
paisagem solitária.
Octávio Paz (in Antologia Poética, Trad. de Luís Pignatelli, Dom Quixote)
6 comentários:
querida amiga:
ainda bem que elogias o teu tio! fico orgulhosa e vaidosa por saber-me tua amiga! Afinal tu tens um familiar tão ilustre... A tua modéstia comove-me...
Fiquei encantada com a vida do Sr Pignatelli (deixa-me tratá-lo assim, agora que quase enlouqueci com o nosso amado Sr M. Tavares!). Desconhecia a ligação a nomes sonantes como o do Adriano Correia de Oliveira! Sempre admirei essa geração e o meu maior desgosto foi não ter participado activamente no 25 de Abril! Que homens corajosos e sonhadores... O balanço é que deve entristece-los, 3 épocas volvidas...
Muitos beijos
Anabela
Muitos beijos
Doce amiga:
será que cometi a imprecisão de dizer que o teu tio traduziu Neruda? Percebi tê-lo feito naquele livro: 20 sonetos de amor...
beijos
Anabela
Ana Bela Ana,
a tua alegria por conheceres o Sr. Pignatelli, tio que conheci mais pelas histórias que a minha mãe e avós dele contavam do que pelas raras vindas a Espinho ou idas nossas a Lisboa, é a minha alegria. O meu tio era a pessoa mais simples do mundo e foi realmente um lutador, junto daqueles homens que se tornaram posteriormente mais famosos no 25 de Abril.No entanto, acho que como nunca convivi com hábito com ele, parece-me um acidente ele cruzar-se na minha vida como meu tio. Assim, ele sempre existiu mais para mim como um nome assinado em jornais, revistas e livros do que como pessoa. Ele é as suas palavras e algumas imagens que foram ficando de férias, de cerimónias religiosas, de telefonemas... Confesso-te que bem dentro da minha modéstia se esconde uma enorme vaidade por ele ser meu qualquer coisa. Deixou uns primos fabulosos que lamento não ter perto de mim. Muitos bjs amiga linda.
Não cometeste um erro grave pois o meu tio traduziu Pablo Neruda (Odes Elementares, Dom Quixote). Não foi ele o tradutor desse poema que transcreves, foi Fernando Assis Pacheco, mas poderia ter sido conforme tu o querias, minha linda amiga.
Doce amiga:
Vi agora o poema que colocaste no post sobre o teu tio, Sr Pinhatelli. Relembro com saudades a musicalidade e a irreverência da tua voz quando mo declamaste! Quando fores famosa vou bradar a sete ventos: a Pat lia para mim, só para mim. E conservo comigo todos esses momentos luminosos em que conheci Octavio Paz a teu lado. E este poema em particular (e que é lindo!)reservo-o no fundo do meu ser...
Obrigada por voltares a partilhá-lo comigo!
Muitos beijos
Anabela
querida amiga:
faço o mesmo reparo que fiz em relação ao poema do Pablo Neruda: diminui o espaçamento! Apesar de a beleza do poema permanecer sob qualquer circunstância, parece-me que é mais fácil para o leitor poder apreciá-lo de um fôlego...
Obrigada pela líndíssima escolha...
Beijos
Anabela
Enviar um comentário