sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Biblioteca - Gonçalo M. Tavares

O Rosto da Filosofia


Graças a ti Ana Bela Ana estou mais perto da biblioteca mensal de Gonçalo M. Tavares. Muito obrigada, amiga.



Biblioteca

Sobre Heidegger



Entre duas palavras há uma coisa, algo que instiga o homem a aproximar-se da mesa e do livro. É essa coisa que há entre as palavras que ele agora examina.Nada, dirão os outros. Um espaço entre dois factos, duas letras – um espaço entre a letra final da palavra que está à esquerda e a primeira letra da palavra que está à direita. No meio destas duas letras o espaço em branco, o vazio – mas é para lá que esse homem olha. Está obcecado por isso, por esse vazio, pelas várias coisas que se poderiam colocar lá dentro.
Depois de observar muito tempo esse vazio, o que ele vê são todas essas coisas que poderiam ocupar esse espaço.Como se todas as coisas do mundo fossem pormenores do vazio que só uma observação atenta consegue distinguir.


JL, 21 de Outubro – 3 de Novembro 2009



Heiddeiger é um filósofo arrebatador, considerado um dos mais criativos e interessantes filósofos do séc. XX. Tem uma biografia incrivelmente aliciante e uma vida amorosa digna de páginas literárias (a sua relação com uma mulher judia, numa Alemanha nazi ). Ele mostra-nos o contraste entre a concepção moderna do "ser" e a concepção Grega do ser e a partir dele esclarece-nos que a moderna sociedade da tecnologia colocou em primeiro plano simples atitudes manipulativas que anularam o verdadeiro significado da vida. Para Heiddeiger, a humanidade deixou de ter em conta a sua principal vocação que consiste em recuperar a verdadeira compreensão do ser, tal como os Gregos o conseguiram. Afirma, assim, que os filósofos posteriores perderam essa capacidade de entendimento. Quero saber muito mais deste filósofo alemão que é para M. tavares também uma referência da sua obsessão pelo vazio. Apetece-me citar Sartre ao dizer que o que eu sou “é fundamentalmente o desejo de ser”, citando Platão que por sua vez afirma que “desejo é falta”, indo em direcção ao vazio do M. Tavares, ao desencontro da felicidade, mas sempre com a vista posta na abertura que permite vislumbrá-la ao longe e chegar mito perto dela, como por vezes nos parece estarmos quase a conseguir alcançar o nariz com a língua. Também eu gosto de observar as coisas do mundo como pormenores do vazio como o que vai de uma letre a outra. Todos os bons escritores são obcecados por reflectir sobre a própria escrita em si (mecânica e reflexiva). M. Tavares não escapa a essa tara. E ainda bem para nós, leitores.

1 comentário:

Anabela disse...

doce amiguinha

li igualmente este texto sobre o vazio. Fascinou-me a forma como alguem pode querer ver o vazio quando afinal devia ser vazio. Esta obsessao nao e nova. Os grandes fisicos-filosofos sempre quiseram saber mais sobre o vazio, ou a ausencia de materia. A questao filosofica em torno deste conceito e dificilima...
Desconhecia que este autor fosse filosofo. Obrigada pela pesquisa que fizeste! Fiquei com vontade de conhcer a obra deste pensador. Concordo com ele quando diz que nos desviamos dos pensadores gregos. Na verdade, o hiato ´´e de tal forma abismal que dificilmente retomaremos o rumo ou pelo menos ja nao sera na nossa geraçao... ´´e desesperante querida amiga, pensar que esta sociedade "manipulativa" nas palavras de Heiddeiger, ´´e a sociedade em que estamos imersos e que nos manipula sem nos apercebermos disso...
Vou contar-te a minha experiencia de hoje e que de certeza ja te aconteceu, como de certeza aconteceu a todo o ser humano.
Fui a um centro comercial no Porto (mais um!), luxuoso, cheio de luzes e letreiros apelativos, repleto de gente ´´avida por consumir e eu... bem eu vi e senti o monstro manipulador! O que fazia eu ali? que faziam toos aqueles seres que v^^eem no acto de consumir um acto de felicidade? nao sera isto manipulaçao? Nao tenho nada contra os centros comerciais, alias vejo-lhes inumeras vantagens e eu usufruo frequentemente do que tenho ``a porta mas faz-nos pensar de facto no "Ser" como diz o dito filosofo:
A HUMANIDADE DEIXOU DE TER EM CONTA A SUA PRINCIPAL VOCAÇAO QUE CONSISTE EM RECUPERAR A VERDADEIRA COMPREENSAO DO SER
Magnifico, amiguinha, e Saramago levantava essa problematica na " A Caverna", tal como o teu Paulinho sabiamente me fez recordo na semana passada...
Muitos beijos
Anabela