sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Graça Morais - Centro de Arte Contemporânea

Graça Morais fotografada
O Interdito Transfigurado
Triste Prazer

Longe

Transformar é Preciso

Erotismo e Morte

Diabo no Corpo
Do encontro de Graça Morais com os desenhos preparatórios de Picasso para a obra Guernica, metáfora maior dos dramas da guerra civil espanhola, cruzados com a visão pessoalizada sobre a cosmologia rural transmontana, onde a mulher-vítima é protagonista, haveriam de resultar, em 1982, grande parte dos seus trabalhos. Obras como Maria e Delmina ou a série de desenhos Mulher e Guernica denunciariam, pelas objectivas citações picassianas, a importância desse encontro. No entanto, esta abordagem plástica viria a alcançar, a partir do biénio 1986/87, período sobre o qual centramos a presente exposição, outros contornos. Encenações pejadas de grande carga erótica e simultaneamente dramática, tema que constituirá um recurso muito frequente na sua obra, evidenciam a experimentação de outras possibilidades formais e conceptuais, ao ponto de conduzirem a sua pintura a uma dimensão demiúrgica e surrealizante. O confronto do profano com o sagrado torna-se assim, pela subversão, a matéria principal onde a artista perspectiva, pelo desenho e pela pintura, distintas extensões da espiritualidade. Libertando-se e desafiando convenções sociais e até pessoais, Graça Morais faz emergir do seu trabalho uma clara tentativa de dessacralização da religiosidade e de refutação da concepção de erotismo associada à ideia de pecado. Títulos como Sagrado e Profano, Erotismo e Morte, Sedução e Paixão, conduzem-nos, sem dogmas ou eufemismos, a uma ousada estilística que presentifica a miscigenação do humano e do divino, do carnal e do espiritual, do terreno e do etéreo, em cujas composições se multiplicam figuras andróginas, centauros, ou corpos auráticos que dualizam prazer e alienação. Graça Morais apropria-se ainda de enredos bíblicos, histórias protagonizadas por figuras femininas como Salomé ou Judith, cujos temas preenchem semanticamente a dominação sobre o masculino e, não obstante as variações intrínsecas de cada trama, mantêm o mesmo campo comum: sedução e morte por vingança. No entanto e para acentuar esta ambivalência de leituras, a apropriação estende-se ainda, em algumas obras, ao universo da mitologia clássica, nomeadamente quando reinterpreta, em Judith, a sedução de Leda por Júpiter disfarçado de cisne, uma das conquistas mais retratadas pela história da pintura. Realizado ao longo de distintas fases da sua pintura, também a prática do auto-retrato se repete agora em Suspensa entre a Terra e a Lua. Sem perder os seus referentes com o modelo, desvendando-se assim enquanto observadora de si mesmo, a composição vai muito além da mera representação mimética da fisicalidade, aqui sugerida por um rosto rúbeo, para se assumir, como refere Joelle Moulin, numa “identificação suprema do artista com a sua arte”; isto é, mais do que uma auto-representação de si, ela é uma representação da essência da obra e dos limites da sua liberdade criativa. O seu verdadeiro modelo não é Graça Morais mulher, mas a artista e, consequentemente, o seu processo criativo. O período aqui representado consubstancia ainda a sua passagem por Londres, a convite de Paula Rego. Ao longo do mês de Julho de 1987, Graça Morais privou e trabalhou intensamente num atelier contíguo ao de Paula Rego. Deste encontro resultariam algumas das obras aqui presentes e a génese de uma duradoura amizade.
Jorge da Costa









2 comentários:

Anabela disse...

Querida amiguinha

Acho que ja te disse que a Graça Morais e da minha aldeia (Vieiro). Embora nao resida la de ha uns anos a esta parte (esteve em Paris com uma bolsa da Gulbenkian, casou com o m´´usico Pedro Caldeira Cabral e reside em Lisboa), visita regularmente a aldeia.
A minha orientadora de mestrado, a Dra Isabel Calado, tinha uma adoraça~~o enorme pela pintora e no ano passado foi visitar me e quis ver o atelier que possui na aldeia. Foi pena nao se ter cruzado com a Graça.

Gostei muito do post e das imagens que escolheste. Aprecio bastante a pintura dela embora a considere dificil e por vezes pouco apelativa devido aos tons menos exuberantes. Mas em todas ou quase todas as telas, existem inumeros elementos que a ligam a tras-os-montes e a terra. A mulher e um elemento amplamente retratado e apresenta uma coleccao (para mim das melhores) que retrata so mulheres da aldeia na epoca em que vao religiosamente enfeitar as campas (dia dos fieis defuntos).

Muitos beijos e obrigada pela deliciosa seurpresa.
Anabela

PS: desculpa continuo sem conseguir colocar acentos nas palavras

Sofia Loureiro dos Santos disse...

A obra titulada "Transformar é Preciso" não é da pintora Graça Morais. É importante que esclareça este facto no próprio post, pois o/a verdadeiro/a autor/a, assim como a pintora Graça Morais, poderão pedir responsabilidades.