À Filomena, que sem a conhecer é como se a conhecesse já...
Obrigada pela sensual poesia ... a mim lembra-me um tango, apaixonado, explosivo, intenso... embora difícil de dançar... Fico à espera de mais...
Sobre o Poema, Herberto Helder
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue ou sombra de sangue
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
— a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
e já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
— Embaixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
— E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
1 comentário:
Não há palavras para a minha Ana Bela Ana... Que lindo post nos ofereces, amiga! Um tango a apontar para o o nosso destino, para a fatalidade das coisas...
Depois de me deixar absorver por todos os deveres, papeladas, obrigações, reuniões e demais complicações da escola, são raios de sol e mar à vista as tuas palavras sobre as palavras de uma amiga.O poema de Herberto Helder, abre uma cova à minha sensibilidade criativa. Não me importo.Venham mais para meu espanto e regalo!Muitos bjs
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